Das telas para as camisetas

Artista plástico saiu de Cachoeiro há 12 anos, mas agora seus trabalhos são mais do que quadros na parede

18/08/2018 10:07
Das telas para as camisetas

Durante anos, Humberto Poubel, 53 anos, enxergou em si o dom para as artes plásticas. O que não via, eram perspectivas de valorização do seu talento em Cachoeiro. Partiu, então, para São Paulo (SP) de onde voltou recentemente, 12 anos depois. A mesma ousadia que o levou da Capital Secreta do Mundo para a cidade mais cosmopolita do país o ajudou na transição de seus trabalhos das telas para as camisetas. Do tradicional para a arte popular. 

Na capital paulistana, onde foi morar com um amigo, os primeiros seis anos foram de insistência com os quadros e teve, até, breve experiência, de quatro meses, como entregador de água.

Nas ruas, o artista notou que a pintura, hoje, não é mais valorizada como enfeite inerte, mas para alguma utilidade prática.Nesta época, recebeu encomenda de uma cliente de Cachoeiro para quadro exclusivo, que seria levado para a Noruega. Era o momento da virada.

Com o valor, adquiriu camisas, que se transformariam em verdadeiras telas, com as quais transitaria com sua arte por São Paulo. Passou a se levantar de madrugada para estar às 6h00 na Avenida Paulista. Chegar bem cedo era a única maneira de garantir seu espaço nas calçadas.Poubel tirou seu trabalho de quadros nas paredes e levou para a rua, para que as pessoas o vissem produzindo.

?É fácil ficar em Cachoeiro fazendo sua arte e reclamando. Eu tive coragem e ousadia de explorar lugares e encaminhar meus trabalhos pelo mundo, como os grandes da cidade de minha naturalidade: Roberto Carlos, Rubem Braga, Sérgio Sampaio, entre outros?, diz Poubel.

Ele cita talentos das artes nascidos em Cachoeiro, mas é nos versos da canção ?Nos Bailes da Vida? imortalizada na voz do mineiro Milton Nascimento que se inspira. Como dia a letra, 'todo artista tem de ir aonde o povo está'. ?Não precisei de mídia para divulgar e expandir meu trabalho... Precisei do povo?.

Após seis anos conhecendo e vendendo seus produtos para pessoas do mundo inteiro, que estavam de passagem por São Paulo, Poubel teve que desistir ?por perseguições, fiscalizações, bullying e, principalmente, a crise (econômica) em São Paulo que foi se agravando.

Retornou para sua terra natal, Cachoeiro, em 18 de julho. Humberto se diz perplexo com o acolhimento de todos, principalmente com seu trabalho. Encomendas são feitas. Mas seu projeto de retomada é expor pelas cidades do Sul do Estado. Baseados em fotografias, transfere para as peças desenhos do ?Cachoeiro antigo? e faz questão do realismo.

?Farei da arte, algo importante e agradável na vida das pessoas. Me aguardem, esse é só o começo?, enfatiza Poubel.