Das telas para as camisetas - Jornal Fato
Cultura

Das telas para as camisetas

Artista plástico saiu de Cachoeiro há 12 anos, mas agora seus trabalhos são mais do que quadros na parede


Durante anos, Humberto Poubel, 53 anos, enxergou em si o dom para as artes plásticas. O que não via, eram perspectivas de valorização do seu talento em Cachoeiro. Partiu, então, para São Paulo (SP) de onde voltou recentemente, 12 anos depois. A mesma ousadia que o levou da Capital Secreta do Mundo para a cidade mais cosmopolita do país o ajudou na transição de seus trabalhos das telas para as camisetas. Do tradicional para a arte popular. 

Na capital paulistana, onde foi morar com um amigo, os primeiros seis anos foram de insistência com os quadros e teve, até, breve experiência, de quatro meses, como entregador de água.

Nas ruas, o artista notou que a pintura, hoje, não é mais valorizada como enfeite inerte, mas para alguma utilidade prática.Nesta época, recebeu encomenda de uma cliente de Cachoeiro para quadro exclusivo, que seria levado para a Noruega. Era o momento da virada.

Com o valor, adquiriu camisas, que se transformariam em verdadeiras telas, com as quais transitaria com sua arte por São Paulo. Passou a se levantar de madrugada para estar às 6h00 na Avenida Paulista. Chegar bem cedo era a única maneira de garantir seu espaço nas calçadas.Poubel tirou seu trabalho de quadros nas paredes e levou para a rua, para que as pessoas o vissem produzindo.

"É fácil ficar em Cachoeiro fazendo sua arte e reclamando. Eu tive coragem e ousadia de explorar lugares e encaminhar meus trabalhos pelo mundo, como os grandes da cidade de minha naturalidade: Roberto Carlos, Rubem Braga, Sérgio Sampaio, entre outros", diz Poubel.

Ele cita talentos das artes nascidos em Cachoeiro, mas é nos versos da canção "Nos Bailes da Vida" imortalizada na voz do mineiro Milton Nascimento que se inspira. Como dia a letra, 'todo artista tem de ir aonde o povo está'. "Não precisei de mídia para divulgar e expandir meu trabalho... Precisei do povo".

Após seis anos conhecendo e vendendo seus produtos para pessoas do mundo inteiro, que estavam de passagem por São Paulo, Poubel teve que desistir "por perseguições, fiscalizações, bullying e, principalmente, a crise (econômica) em São Paulo que foi se agravando.

Retornou para sua terra natal, Cachoeiro, em 18 de julho. Humberto se diz perplexo com o acolhimento de todos, principalmente com seu trabalho. Encomendas são feitas. Mas seu projeto de retomada é expor pelas cidades do Sul do Estado. Baseados em fotografias, transfere para as peças desenhos do "Cachoeiro antigo" e faz questão do realismo.

"Farei da arte, algo importante e agradável na vida das pessoas. Me aguardem, esse é só o começo", enfatiza Poubel.

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