Verdades e mentiras - Jornal Fato
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Verdades e mentiras


Em tempos de tanta desinformação, quando as notícias, verdadeiras e falsas, circulam em velocidade recorde pelas redes sociais, lembrei-me de palestra da professora e Filósofa Márcia Tiburi.

 

Ela diz que estamos compulsivos em relação à informação, mesmo que tenhamos perdido o critério do que significa uma informação válida, importante, relevante, que faça sentido. E aí ela tocou num ponto que mereceu ainda mais atenção.

 

"Essa nossa compulsão e emissão compulsiva da informação tem muito a ver com a perda do valor da verdade entre nós. Não estamos mais preocupados com um valor como a verdade."

 

E não é o que temos visto, em tempos de comunicação 2.0, onde somos ao mesmo tempo leitores e produtores de conteúdo? A Filósofa diz que em nosso tempo não estamos interessados na verdade, já que ela é moldada aos interesses de quem detém o poder.

 

Propagandas institucionais dos governos estão aí para comprovar o que ela diz. Estão, por exemplo, querendo nos fazer crer que a reforma da previdência é para o nosso bem, quando teremos que contribuir por 49 anos se quisermos ter salário integral.

 

Partidos e seus representantes, muito bonzinhos, dizem que serão apenas 40 anos de contribuição, e que estão lutando pelo povo brasileiro. Aumentaram o tempo de contribuição, a idade mínima, mas para eles, que não mudaram nem perderam nada, está tudo bem.

 

A contra-informação do Governo Federal diz que é mentira, que estão falando inverdades sobre a reforma da Previdência. Então tá. Mas se isso acontece, é porque há, ainda usando as palavras de Tiburi, servidão ao poder, o que torna quem se submete a ele pessoas que usam dois pesos e duas medidas.

 

"Essa inconstância nos tornaria "puxa-sacos" muito facilmente. Estamos na época da cultura irreflexiva, quando pisamos em quem consideramos hierarquicamente inferior a nós". Pelo jeito que estamos sendo duramente pisoteados, tem gente nos considerando inferiores e irrelevantes. E infelizmente não é de hoje.

 

Para mudar esse quadro, seria necessário resgatar a ética e fazer as perguntas certas, na concepção de Márcia Tiburi: o que as pessoas fazem umas com as outras? Quais são as ações humanas? Como as pessoas se comportam? Quais são as suas atitudes? Como usamos a palavra hoje? Como era antes? De onde ela veio? Que tipo de conceito, que tipo de afetos essa palavra carrega?

 

Muitas perguntas, e cabe a cada um de nós buscar as respostas, lembrando que são as coisas humanas que formam a ética, como já ensinavam Sócrates e Platão, como bem lembra Tiburi.  Ela destaca que a ética foi a primeira ciência que estudava as coisas humanas e que é importante resgatar a sabedoria da convivência.

 

E o que seria isso? Ela responde: é estudo, preocupação, investigação, questionamento, andar juntos com outros seres, sem abrir mão da ética. "Mas se não quisermos, temos que nos dar ao direito da solidão boa e produtiva."

 

Em tempos de exposição de informações excessivas, nem sempre verdadeiras, e de pessoas que se colocam numa vitrine, a solidão que incomoda e produz frustração é a que nos empurrou para o individualismo e para a perda de valores essenciais.

 

A verdade e a ética entre eles. Aí tem gente que acredita que dá conta de viver sozinha e que não precisa de ninguém. Estamos querendo enganar a quem? Que sejamos sóbrios e lúcidos, mais do que nunca, tempo de ler entrelinhas e perceber o que não é dito. Ou será que já é tarde demais?


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