Há alguns anos minha filha adquiriu um gato persa que é o xodó da família. Ela mora em apartamento e todos vivem numa relação de muito amor com Eros, o gato. Só que num certo dia ela estava caminhando pelo bairro São Geraldo e lá encontrou um gatinho preto, miúdo, maltratado, abandonado e à beira da morte. Ela o pegou repleta de compaixão e conseguiu salvá-lo, alimentando-o com mamadeira e cuidando dele carinhosamente. Ela lhe deu o nome de Elvis, mas os apelidos que se mantiveram - pretinho, macaquinho, entre outros. Ele cresceu e se transformou num gato forte, de pelo brilhoso e de lindos olhos verdes.

 

E dócil com a família que o acolheu, o meu neto menor faz dele um travesseiro, dorme junto, o carrega prá lá e prá cá, e ele deixa-se levar. Vivem harmoniosamente, Eros mais caseiro, bonachão e Elvis dá umas escapulidas nas redondezas. Nossa filha teme por sua vida pois ainda existe gente ignorante que acha que gato preto dá azar. Nas férias toda a família vai para nossa casa de praia, que possui um grande quintal e muito telhado para os gatos passearem. Já aconteceu do Eros sumir algumas vezes, deixar a família louca à sua procura e retornar alguns dias depois, na maior cara de pau - coisas de gato.  Quando nossa filha sai para trabalhar Elvis fica horas no portão a aguardando.

 

As férias fazem bem a todos, mas parece que os gatos são os que mais aproveitam. E eles pressentem quando a família começa a se arrumar para retornar - daí somem. Todo ano é a mesma história. Apenas se espera e eles voltam, ressabiados mas retornam. E novamente, neste ano, eles desapareceram. Saímos todos à procura e encontramos Eros escondido debaixo de uma cama. E nada de Elvis. Nossa filha cansou de procurar e pediu-nos que o levássemos no dia seguinte. Ele foi encontrado à noite dormindo na cama dela. Trancamos tudo e na manhã seguinte, quando fomos apanhá-lo, ele nos estranhou e não permitiu que nos aproximássemos. Rosnava e se esquivava, pronto a nos atacar. Desistimos. Impossível colocar um gato nessas condições dentro do carro. E ele sumiu de novo. Nossa filha retornou à praia para pegá-lo e ele continuava desaparecido, todos já o haviam procurado insistentemente e nada. Porém bastou um chamado dela e ele apareceu, pulou no seu colo e foram embora. Tem situações que só o amor explica.