Tributo a Luiz Carlos Sant´Anna - Jornal Fato
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Tributo a Luiz Carlos Sant´Anna


Ainda me lembro dele recomendando que o acordasse em 15 minutos. E para mim dormir naquele caso era apenas força de expressão.

 

O breve sono era numa cadeira, que levava a um local menos movimentado, para não atrapalhar a rotina da casa transformada em QG de campanha.

 

Ao que parece, o barulho não o impedia de descansar por poucos minutos. Após o rápido cochilo, haja disposição para acompanhar o pique.

 

Mas era essa a rotina de Luiz Carlos Sant´Anna, numa campanha eleitoral em que foi candidato à vice-prefeito. Independente da hora que terminasse a agenda do dia anterior, chegava junto com o primeiro da equipe.

 

Ouso dizer que era o sonho de consumo de todos que querem um país melhor. Nesse período de convivência quase em tempo integral, vi um homem que não usava máscaras, para quem política era coisa séria, transparente ao extremo.

 

As qualidades como cidadão de bem, generoso, médico humanista e radialista respeitado, de narrações esportivas apaixonadas, já conhecia de longa data.

 

Como pediatra, levamos a ele uma sobrinha que praticamente não comia. E isso numa família que preza o prato farto é preocupante.

 

Foi claro e firme: "deixem a menina em paz. Ela é saudável. A hora que ela quiser comer ela come. Tem gente que come o mínimo possível e vive muito bem".

 

Simples assim. Eu, que fora esperando no mínimo a receita de uma vitamina( no meu tempo, Emulsão de Scott, com certeza), só saí sossegada porque quem recomendou foi um profissional em quem aprendera a confiar.

 

O respeito e admiração ao político foram conquistados nas pequenas coisas. Ele tinha talento para a simplificação do que as pessoas pretendiam complicar.

 

Sempre com uma transparência digna de todos os aplausos. Quando deputado, sempre nos encontrávamos e conversávamos, pelo tempo máximo que a inquietação dele permitia.

 

Era um excelente parlamentar, corajoso, mas que comprava brigas inglórias. Não se permitiu a zona de conforto, mas abandoná-la é um caminho difícil. Descobriu isso.

 

Por isso deixava claro: não se candidataria de novo, embora para nós fosse certo que se reelegeria. Ele, mais que ninguém, como diria Caetano, sabia a dor e a delícia de ser o que era. Pagou o preço e abandonou a vida pública.

 

Perdemos todos um representante integro, sem meias palavras, cumpridor do compromisso assumido.

 

Não o vi após o início da doença. Lamento até hoje sua morte. Mas celebro a honra de ter convivido tão de perto com ele e sofrido junto momentos difíceis que toda campanha impõe.

 

Homenagem tardia, eu sei. Mas pensar em Luiz Carlos Sant´Anna é renovar esperanças e lembrar que ainda podemos lutar por dias infinitamente melhores.

 


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