Todas em mim - Jornal Fato
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Todas em mim


Eu sou a que pensa, a que fala, a que cala e a que escuta. Todas em uma só, revelando de forma nada sutil que um dia nunca será como o dia que passou. Posso fazer promessas hoje que não cumprirei amanhã por causa da mais absoluta preguiça, mas que na próxima semana te chegarão feito tempestade que assusta mais pelo barulho do que pelos estragos. Aliás, estrago é coisa que causo bem pouco. Quase nada sai quebrado. Um copo, um prato ou uma garrafa. No mais só eu mesmo que vivo aqui juntando meus próprios cacos e colando sem amolar ninguém. Me quebro, me junto, me colo, me amo, me odeio, me corrijo, me arrisco e me quebro de novo nesse círculo que poderia ser bem redondinho como o de qualquer pessoa. Mas não. Afinal, é meu esse círculo. Então ele embola, faz curvas ou fica oval. Depende da estação do ano, da fase da lua, do meu signo, da minha sorte ou de como anda o meu coração que ultimamente só quer saber de sambar. E por falar em samba, eu sou a que reclama dos pés doendo e cinco segundos é capaz de sair pela avenida sorrindo em cima de altíssimos saltos. Eu sou a que faz dieta de dia e come pizza á noite. A que, morrendo de sono, vara a madrugada acordada. Eu posso ser quase santa de segunda a sexta e infernizar sua vida no final de semana, e vice-versa. Eu sou a que acalenta, a que é acalentada, a mãe, a filha, a mulher, a doida que inventa péssimas letras de música e dança na frente do espelho jurando ver paparazzi no reflexo embaçado de quem já bebeu todas. Eu sou a sua casa, a minha casa e a casa dos meus amigos. Eu sou a bruxa que voa com a mesma vassoura que eu dona de casa deixo limpo o chão.

 

Eu sou a que diz "não faça isso", mas que troca o "eu te avisei" por um abraço apertado. Somos todos ecos dos nossos gritos de dor, desespero, dor, amor e alegria. Somos todos ávidos por um momento de plenitude. Você é minha plenitude quando empresta o peito para que eu não diga nada. Apenas me deixa ficar. Me deixa ficar hoje, que estou cansada. Me deixa ficar amanhã, quando eu não sei como vou estar. Me deixa ficar depois de amanhã porque é carnaval e serei mais outras tantas, carregada das fantasias reais e imaginárias que me acompanham da infância, quando uma saia de havaiana decidiu por mim que eu precisaria de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim em vários momentos da minha vida. Me deixa ficar para sempre porque nunca antes tantas borboletas voaram no meu estomago com tanta velocidade. Me deixa ficar quando eu for bossa, bolero ou rock.

 

Não precisa gostar de todas essas moças que habitam aqui. Se amar apenas uma e aprender que para todas basta uma taça de vinho, uma xícara de café, um pouco de poesia e cafuné nos dias frios, tudo estará resolvido. Me ame assim, com paciência e sem pressa. Com respeito e sem julgamentos. Com lealdade e sem preconceitos com nenhuma dessas moças que aqui habitam.  Cada uma delas será eternamente grata. E com todas você será feliz.


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