Terceiro Reich - Jornal Fato
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Terceiro Reich


"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto."

 

É lamentável admitir que 93 anos após sua morte, as palavras do jurista, político, diplomata, escritor e orador baiano Ruy Barbosa sejam tão atuais. Falo isso em tempo triste e preocupante de guerra institucional e ameaças entre os Poderes da República.

 

"Toda vez que queremos acabar com os altos salários, ele se manifesta", disparou Renan Calheiros em relação ao Ministro Marco Aurélio de Mello, que pediu seu afastamento da presidência do Senado por acusação, claro, de corrupção. Que há rabos presos de todos os lados ninguém duvida. Não há santos nessa história.

 

Briga de cachorro grande, como diria um amigo.  Nada republicano, e o lamentável nisso tudo é ver que os erros da história se repetem, aparentemente sem que haja percepção do abismo em que estamos sendo jogados por nossos "representantes". Sim, porque quem acha que já estamos no fundo do poço não percebeu que tempos muito piores estão a caminho, e que o buraco é muito mais fundo do que imagina nossa vã filosofia.

 

Vemos abuso de poder, discursos eletrizantes e manipuladores, e a atuação ardorosa em defesa de interesses pessoais, nunca coletivos. E aí volto a fatos relativamente recentes da história da humanidade, quando Hitler, diante de uma população insatisfeita com a crise política e econômica pós-depressão de 1929, usa o dom da oratória inicialmente para impressionar e agregar aliados, e finalmente para tomar o poder.

 

Hitler assumiu prometendo uma política de sincronização e acabou com os partidos políticos e obrigou-os, bem como às organizações e governos estaduais, a se alinharem às suas diretrizes. Orador brilhante, como alguns que vemos por aqui, o nazista recebeu tanto apoio de seus pares que derrubou o presidente que o nomeou e estabeleceu um governo autocrático e ditatorial.

 

Na teoria, a salvação da Alemanha, que uniria moradores de todas as classes, sem distinção. Na realidade, o Terceiro Reich. Famílias inteiras submetidas a detenções e prisões arbitrárias, num estado policial sem precedentes, que deram a Hitler o título de um dos maiores assassinos da história. O Holocausto prova seu poder de fogo.

 

Guerra entre o Senado e o Supremo.  Guerra entre servidores da Polícia do Rio de Janeiro e os demais servidores, que com salários em atraso se revoltaram, porque além de tudo eles foram  reduzidos em nome de uma crise seletiva e excludente. Muita bala de borracha e spray de pimenta para combater trabalhadores lesados em seus direitos.

 

Ao mesmo tempo, o mundo toma conhecimento dos bilhões desviados de obras públicas para governantes do Estado. A "mesada" semanal da ex-primeira dama de R$ 300 mil não é nada diante dos colares e muitos brincos de R$ 1 milhão que comprava a vista. Nada a declarar sobre a infame reforma da Previdência.

 

As palavras de Ruy Barbosa, proféticas, já se cumpriram em nossa pátria amada, salve, salve Brasil. Mas é preciso jogar por terra a máxima divulgada por aí essa semana de que manda quem pode, desobedece quem tem juízes. Só o povo salva o país. Mas ele precisa reconhecer a força que tem.


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