Tem gente querendo que o pobre se exploda - Jornal Fato
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Tem gente querendo que o pobre se exploda


Quando a gente pensa que já viu e ouviu tudo de gente que quer que o pobre se exploda, como diria o nobre deputado Justo Veríssimo, um dos muitos personagens de Chico Anísio, toma conhecimento de que o ministro da Saúde disse textualmente que os pacientes que procuram as unidades da rede pública apenas "imaginam" estar doente.

 

A justificar a imbecilidade, o fato, segundo ele, de que os resultados dos exames feitos não apontarem anormalidades, e de que muitos não voltam para buscá-los.

 

O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, Antônio Carlos Lopes, que deve entender muito mais de saúde, destaca que 70% dos exames pedidos nessas unidades terão resultados normais porque os pacientes não são bem examinados, nem bem interrogados, e os pedidos são feitos errados.

 

Outro ponto que o Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica destaca é que o exame demora tanto para ficar pronto, que realmente o paciente melhora,  e não vai buscar o resultado.

 

Então é preciso que alguém avise ao ministro que quando o trabalhador recorre ao SUS não é porque está sem o que fazer e vai dar um passeio. Mais que isso. Ele não tem o hábito de ir ao médico e querer que sejam feitos exames, "levando a gastos desnecessários".

 

Os aludidos efeitos psicossomáticos apontados pelo ministro podem ser exceção, mas certamente não são a regra. Caberia (nem aí, creio) na medicina privada a sugestão do ministro de que os médicos ajudem a mudar o pensamento dos que querem que sejam feitos exames para descobrir o que têm. Segundo ele, fazer muitos exames "não é compatível com os recursos que temos".

 

Textualmente: "Não temos dinheiro para ficar fazendo exames e dando medicamentos que não são necessários só para satisfazer as pessoas, para elas acharem que saíram bem atendidas do postinho de saúde".

 

Antônio Carlos Lopes, da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, mais uma vez discorda: "O paciente não tem culpa nisso. A maioria tem queixa real, que não é devidamente valorizada pelo médico".

 

Outro que discorda das palavras estúpidas e imbecís do ministro é o Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso. Ele diz que o paciente nem tem o poder de escolher se quer fazer exames ou tomar remédios.

 

"É preciso avaliar melhor os dados informados pelo ministro antes de qualquer conclusão. O julgamento do que o doente precisa é médico. Às vezes está lá que o doente não foi pegar (o resultado do exame), mas o doente ou o médico viram na internet".

 

Fácil falar isso quando se desfruta das benesses do poder. Talvez o ministro seja, a exemplo de nossos senadores e deputados, um dos que tem todas as despesas médicas próprias e da família pagas com recursos públicos, independente de que parte do mundo deseje se tratar. E isso realmente não é compatível com os recursos que temos.  

 

Nós pagamos a conta. Inclusive da aposentadoria com oito anos de mandato, quando querem impor ao trabalhador que começa cedo no mercado de trabalho a aumentar a idade mínima para se aposentar. Resta aguardar para ver como votarão os nobres parlamentares capixabas.

 


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