Ser feliz ou ter razão - Jornal Fato
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Ser feliz ou ter razão


Tive um colega de trabalho - atualmente eu o vejo mais como um amigo - com quem costumava, de vez em quando, na hora do cafezinho, bater papo, ou, como costumávamos dizer, filosofar. Nessas ocasiões divagávamos, conversando sobre a vida, suas belezas e suas mazelas. E não raramente nos confrontávamos no campo das ideias, como deve ocorrer - na verdade nossas divergências eram quase uma constante, mas isso se restringia apenas às nossas convicções. No campo profissional contudo trabalhávamos bem afinados.

 

Uma das discussões de que me lembro ocorreu depois de uma pergunta que ele me fez, o que você prefere, ser feliz ou ter razão? Bom, ele me fez essa pergunta sem mais nem menos, durante o expediente - não foi nem no cafezinho, tão pouco na saída ao final do dia. Foi uma pergunta capciosa, percebi pelo sorriso de canto dos lábios que ele deu quando a fez. Mas não me fiz de rogado e aceitei o desafio, apenas pedi um pouco de tempo para pensar na reposta. Confesso, porém que até hoje não consegui entender porque ele fez essa pergunta.

 

Bem, depois de alguns instantes respondi que preferia ter razão. Como assim? ele me perguntou, sinceramente surpreso com minha resposta. Você prefere então estar certo numa discussão e não ser feliz? Não seria melhor não ter razão e ser feliz?  Foi mais ou menos isso que ele disse, e aí que eu percebi o tamanho da arapuca em que eu havia me metido. Já não me recordo qual foi meu argumento para resguardar essa resposta, mas eu a sustentei mesmo diante das tentativas dele de me convencer do contrário. Sempre fui um pouco teimoso.

 

Hoje eu responderia de maneira diferente. Diria que isso depende, que nem uma coisa nem outra, ou as duas coisas ao mesmo tempo - isso se ele aceitasse esse tipo de resposta. Acho que é perfeitamente possível a pessoa ter razão e ser feliz, assim como também há que se considerar o outro extremo, não ter razão e não ser feliz. São dois caminhos diferentes, mas não são antagônicos necessariamente. Um é o do coração, da emoção e do sentimento; o outro é o da razão, da lógica. Eles podem inclusive se entrelaçar e chegar a um destino comum, mas continuarão separados em suas essências; não se fundem.

 

O caminho do coração deve ser percorrido com emoção pura, com sentimentos, acima de tudo. Normalmente deve-se deixar guiar cegamente por ele - conscientemente ou não - qual barco de papel levado pela enxurrada. Onde vai dar? Quem sabe? Já o caminho da razão é um caminho frio, mas nem por isso menos belo que o do coração. Nele tudo é pensado, pesado e medido, a fim de melhor conduzir a pessoa. Percorrer tanto um quanto outro pode ser penoso, ou não. De minha parte prefiro alternar os dois; ora o coração me conduz, ora a razão diz onde devo ir.

 

E você, leitor, prefere ter razão ou prefere ser feliz?

 


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