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"Mãe você realmente lê todos esses autores que cita em seus textos?"

 

Alguns mais, outros menos, em alguns casos apenas fragmentos, respondi.

Já vinha pensando nisso há algum tempo. Sem a erudição que vejo amplamente divulgada nas redes sociais, sempre fui apaixonada pela leitura e li os clássicos brasileiros, sempre com muito prazer.

 

Mas chego a alguns autores através da indicação de amigos. Como foi o caso de Eduardo Galeano, de quem já ouvira falar, mas com quem nunca tivera contato. Fui apresentada a ele por Beatriz Fraga.

 

A leitura do poema "Os Ninguéns" foi avassaladora, numa época de tanta turbulência política que nos empurra mais do que nunca para sermos "os filhos de ninguém, os donos de nada". A partir desse impacto, me inteirei mais sobre o autor e me apaixonei.

 

Já Fernando Pessoa me foi apresentado por Roberto Valadão, que não se furtava a interromper uma agenda corrida para nos apresentar alguns de seus textos. Era impressionante ver como a leitura era ao mesmo tempo libertadora e renovadora para ele.

 

Cheguei à Clarice Lispector através de Rosângela Venturi, mas confesso que Clarice me tira da zona de conforto como poucos autores. Até mesmo diante do complexo universo roseano sinto-me mais à vontade.

 

Drummond já era meu conhecido desde a infância, mas tornou-se um pouco mais íntimo por osmose, pode-se dizer, a partir da convivência com Célia Ferreira, que me presenteou com uma coleção do autor e sempre fala sobre ele com conhecimento, autoridade, e acima de tudo paixão.

 

Não sei quem me apresentou Rubem Braga. Provavelmente algum professor. Ao mesmo tempo em que me surpreendia com a capacidade de textos tão sublimes do Sabiá da Crônica, me questionava como alguém tão carrancudo podia ser intensamente doce e leve.

 

Ah, Mário Quintana e Cora Coralina. Acho que são meus preferidos, apesar de não saber quem os apresentou. Amo. Amo. Amo. A simplicidade de ambos me fascina. Sem contar o jeitinho de avós que todos mereceremos ter. Existem muitas outras referências, claro.

 

Mas é preciso admitir que não sou poética ao ponto de declamar textos inteiros com o prazer de quem bebe o néctar dos deuses. Mas a leitura me alimenta. Autores respeitados ou marginais, não há preconceito em minha viagem literária. Sou eclética.

 

A exceção são livros de ficção científica e autoajuda. Amo biografias, romances e contos, inclusive policiais. Quanto a esse último, inclusive, já me alertaram que Agatha Christie é uma leitura pouco qualificada.

 

O conselho é de que não confesse em público meu deleite em ler seus livros, que já me fizeram atravessar noites em busca dos assassinos sempre insuspeitos. E daí? Não sou erudita, lembram? Amo suas estórias cheias de mistérios e enredos bem elaborados.

 

Enquanto a vida passa, cá e acolá recolho retalhos coloridos, com histórias de outras gentes que passam a fazer parte de mim.


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