Recordações - Jornal Fato
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Recordações


 

Em junho de 2007, quando ainda se falava no não construído Presídio Federal de Segurança Máxima em Cachoeiro, escrevi crônica intitulada "CACHOEIRO É A NOSSA CASA", que até fez algum sucesso.

 

Uma semana depois de publicada a crônica, uma terça-feira, 26/06/2007, 20:58 h, recebi e-mail do Dr. Abgar Torres Paraíso, companheiro dos tempos da administração municipal do Prefeito Hélio Carlos Manhães, que fora advogado e, depois, juiz dos mais competentes e que, infelizmente, se foi muito cedo, deixando-nos órfãos de sua prodigiosa verve.

O e-mail diz: "Mansur: Perfeita a sua crônica. Se fosse autoridade dita "constituída" ou "religiosa", esqueceria o assunto penitenciária  federal, para não servir de pábulo para as críticas que, por certo, se avolumarão. Se (você) for excomungado, faça como Guerra Junqueiro: pegue uma espingarda e, da janela de seu escritório, dê um tiro em direção à paróquia do Monsenhor Zagotto. É simbólico,mas você vai se sentir bem. Se o Monsenhor for bem humorado, ambos darão gargalhadas. Um abraço, Abgar".

Pois é isso mesmo, e é porque Monsenhor Zagotto é muito bem humorado e, certamente, a qualquer momento estaremos em conjunto dando gargalhadas, que reproduzo o e-mail do Abgar, meio que perdido entre milhares de outros.

Aproveito para lembrar que Monsenhor está em franca recuperação física e, em breve, voltará integralmente às suas atividades, para que possamos (1) discordarmos mutuamente e (2) darmos as boas gargalhadas anunciadas pelo Dr. Abgar, não necessariamente na mesma ordem.

 

A vez de Angelo

Cristovam Buarque
Crianças naufragaram na viagem para o futuro - No dia 11-2-2005, o helicóptero do presidente Lula desceu na comunidade de Canaã, no agreste pernambucano, ao lado da cidade de Toritama; o presidente caminhou até um grupo de crianças e agachou-se em frente a elas. Um fotógrafo captou a cena, e a foto foi publicada nos jornais. Ao vê-la, decidi visitar as crianças e, com base no que observei, escrevi uma carta ao presidente, sob o título "Estas crianças têm nome - como dar-lhes um futuro?".
Descrevi a realidade onde elas viviam, especialmente a escola onde estudavam, reconheci que o presidente ainda não era o culpado daquele triste cenário de penúria educacional e pobreza social, mas que seria o responsável se, dez anos depois, o quadro se mantivesse; na carta sugeri dez medidas para mudar aquela realidade, seguindo as linhas do projeto que tentei executar ao longo de 2003, quando fui ministro da Educação.
Na semana passada voltei ao local e vi a tragédia resultante de dez anos de abandono da educação e falta de políticas públicas consistentes para a emancipação dos pobres.
A menina - na foto está bem em frente ao presidente - de nome Taciana, então com 6 anos, deixou a escola aos 14, engravidou aos 15 e aos 16 tem um filho com 1 ano e dois meses, chamado Angelo Miguel. Seu irmão, conhecido como Cambiteiro, estava no grupo, mas não quis aparecer na foto. Fora da escola antes dos 15 anos, tornou-se vigilante informal nas pobres ruas de Canaã, até ser assassinado.
O menino chamado Rubinho, então com 7 anos, para quem o presidente Lula parecia olhar, deixou a escola antes da quinta série e, aos 17, tem um filho de nome Natan Rafael. Seu irmão Diego, que não aparece na foto por ser então muito pequeno, hoje com 15 anos, já esteve preso; na cadeia foi jurado de morte pelos presos, esfaqueado, fugiu do hospital e desapareceu. Jailson, o que ri para o presidente, e Josivan, na ponta direita da foto, deixaram a escola antes de terminar a quarta série. Jaques, então com 9 anos, deixou a escola com 13; o menino conhecido como Nego, então com 8 anos, não estudou e tem hoje dois filhos.
Nesses dez anos, a vida daquelas crianças tornou-se uma monótona repetição de fatos e fracassos: todas deixaram a escola antes de concluir o ensino fundamental, fazem parte do exército de analfabetos funcionais que ocupa o país; todas foram trabalhar ao redor dos 15 anos, em trabalhos informais sem qualificação; tiveram filhos ainda na adolescência; nenhuma teve o futuro a que tinha direito ao nascer.
Toritama é um Mediterrâneo onde aquelas crianças naufragaram na viagem para o futuro, diante dos olhos do presidente Lula e de todos nós.
Dez anos depois carreguei nos braços Angelo Miguel, filho da Taciana, e me veio o triste sentimento de ver nele a repetição do mesmo histórico círculo vicioso que gira passando de pais para filhos, sem mudar o rumo do destino. E seria tão fácil, se garantíssemos escola com qualidade para todos de uma geração, como aquela de Canaã, dez anos atrás. Sem isto, agora é a vez de Angelo. (Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)).

 

 

Coisas de Cachoeirense

Bruno Torres Paraíso

No Brasil de hoje a impressão que a gente tem é de que o sonho foi proscrito. Virou terra de pesadelo, de filme de terror. Meus Deus! Que país é esse? Não é aquela pelo qual lutamos tanto, um reino de liberdade e de integridade. O cinismo, a mentira, a inépcia, a falta de cidadania e de espírito republicano são a tônica.

Isso traz medo e parece que o país está à solta, sem rédeas, o que anima os violentos, os traficantes, todos os meliantes a se sentirem livres para agir. Quando a autoridade maior se perde, se dissolve na mentira e no descompromisso com o bem público, o terreno fica livre para o que der vier. A impunidade é coisa muito deletéria. Até quando?

Só consigo sonhar com um bom livro, como por exemplo, um belo romance histórico que narra a saga de Bárbara Eliodora (sem "h", porque o nome dela remete a uma flor e não ao sol) e Alvarenga Peixoto. Refazendo a trajetória desses dois grande personagens da nossa história, a gente consegue refletir até mais claramente sobre o momento presente, por quê nos tornamos um país assim.

(Bruno Torres Paraíso é um dos grandes intelectuais nascidos em Cachoeiro, é irmão de Abgar Torres Paraíso, cujo e-mail transcrevi mais acima. Ambos honram nossa cidade - o trecho que transcrevo, retirei-o do facebook).

 

Notas Perdidas

Um exemplo do passado e 61 erros estratégicos atuais - No final da década de 1970,  Gilson Carone tomou posse como Prefeito de Cachoeiro. Era época da ditadura e  disseram-lhe que ele não faria bom governo porque  não teria dinheiro federal ou estadual (era tempo do MDB x ARENA). Gilson Carone disse que governaria com dinheiro normal da arrecadação do município. Não só governou apenas com dinheiro do município, como foi dos governos mais dinâmicos dos últimos 50 anos. Quem sabe faz! Outros 61prefeitos, atualmente, decretam ponto facultativo e não sei se isso é legal!

LEI RUBEM BRAGA de CACHOEIRO - Venho notando desesperança nos selecionados pela Lei Rubem Braga local, quanto a receberem valores a que fazem jus, para publicação das obras. Já tem gente perdendo a esperança nesse programa cultural, praticamente o único que tem sido tratado com grande atenção quanto aos seus fins.


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