Quem se importa? - Jornal Fato
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Quem se importa?


"Vai caçar um trabalho. Não tem o que fazer?" A frase foi mais ou menos essa, e dita a uma das mulheres que se uniram em manifestação de protesto no último sábado pelo assassinato da estudante de Psicologia Fernanda Costabeber, bem como de todas as vítimas de violência doméstica e familiar que são assassinadas todos os dias no Espírito Santo.

 

Lamentavelmente a morte da jovem de Cachoeiro não é um fato isolado.  Triste ver que as pessoas olhavam com desprezo ou raiva para a manifestação, que para o trânsito, congestiona calçadas e ruas, sempre com o objetivo de que se perceba a gravidade do fato, nesse caso a morte de mais uma mulher.

 

Foi no final da caminhada. O absurdo é que a "desocupada" trabalhou a vida toda, é aposentada, e uniu esforços para chamar a atenção para o Feminicídio. Poderia estar em casa descansando num sábado, mas foi para as ruas clamar por justiça.  

 

Outros comentários maldosos de paladinos, e paladinas da moralidade, infelizmente, culpabilizavam a vítima. "Quem mandou escolher essa vida"? "Só podia dar nisso", "Eu não vou numa manifestação em favor de uma pessoa que escolhe esse meio de vida". 

 

A vítima se formaria em Psicologia no ano que vem. Já estava fazendo estágio, tinha família que não merece ouvir esse tipo de conversa depois de uma perda tão grande. Precisamos bater na tecla, quantas vezes forem necessárias, que Feminicídio não é crime passional. 

 

Faço minhas as palavras de Edna Calbrez Martins, que merece o meu respeito pela militância intensa e ardorosa na defesas dos direitos da mulher. "A culpabilização da vitima é sua segunda morte, porque apaga a sua história de vida e lhe cola pecha de mulher que não cumpriu seu papel patriarcal de submissão". 

 

Então, o movimento que agregou pessoas em torno do assunto é valioso. Parabéns às mulheres e homens que se uniram para dar visibilidade ao tema. Mesmo diante dos olhares raivosos de motoristas e motociclistas que por vezes ameaçavam avançar sobre os manifestantes. 

 

Não podemos permitir a segunda morte, que se apague histórias e sonhos e condenar à fogueira mulheres que ousam se libertar da submissão e opressão patriarcal. Já está provado que foi Feminicídio. 

 

Estamos entre os estados que mais matam mulheres e esperamos ver os assassinos de presos e condenados, pagando pelos seus crimes. Mais que isso, esperamos que as pessoas se importem.  Que se coloquem no lugar do outro, que não façam julgamento e que criem uma rede de solidariedade pela vida. 

 

Em momentos de tanta insegurança, se alguma pessoa suspeita for vista escondida atrás de um poste, árvore, carro ou em atitude suspeita, chame a polícia. Isso pode salvar muitas vidas.

 

Que a indiferença não ajude a engrossar as estatísticas de morte violenta de mulheres. E se não nos cabe consertar o mundo, que façamos a nossa parte em nosso pequeno Cachoeiro, doce terra entre as serras.

 

Que não sejamos movidos pela indiferença. Quem se importa? 

 

Que sejamos todos nós, Poder Público, Sociedade Civil, Clubes de Serviços e todas as pessoas de boa vontade. Não existem justificativas para o Feminicídio. Basta de violência e culpabilização da vítima.


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