Quando o ano novo chegar - Jornal Fato
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Quando o ano novo chegar


Passei a virada do ano sem o tradicional "feliz ano novo" de quem quer que fosse, conhecido ou desconhecido. Quase deu sensação de solidão não fosse o celular vibrando sem parar e um monte de paz de espírito, coração leve e sensação de dever cumprido. Essas coisas preenchem a gente de um jeito que às vezes nem fome dá. Mas o ano mudou mesmo? Demorou tanto para que eu saísse de dois mil e dezesseis que estou achando que dois mil e dezesseis ainda nem saiu de mim. Tenho contas que venceram o ano passado e não foram pagas. Tenho também assuntos mal resolvidos, roupas para lavar e formas de gelo que precisam ser cheias para voltar ao congelador. Tudo lá do ano que passou. Não consigo concluir esses trezentos e sessenta e cinco dias que tanto se pareceram com mil seiscentos e noventa quatro semanas. Ano longo e insuficiente. Preciso trocar essa roupa de cama para ter sensação de ano novo. Ainda não usei branco para dar sorte. Não tem nada branco no meu armário e não tenho dinheiro para comprar. O ultimo salário do ano velho ficou no ano velho. Sem branco talvez não seja um ano tão bom. Não pulei ondas, não comi lentilha e não guardei sementes de romã. E a minha sorte? Como vai ser? Será que roupa branca emprestada no primeiro sábado do ano adianta? Bateu o desespero agora. Na dúvida vou arrumar um tempo para fazer essas coisas antes do dia quinze de janeiro. A primeira quinzena deve ser um prazo estendido para as tradições.

 

Ainda estou cansada, e tem gente que diz que um ano quando chega renova. Renova nada. Sinto dores na coluna e esqueci que as férias começaram. Achei que estava de licença médica porque algumas coisas em mim estão desordenadas. Estou de férias e não vou para Punta Del'Este. Acho que, juntando as moedinhas do meu cofre, nem para a "Punta" que pariu alguém eu consigo ir. Mas estou de férias, afinal. Agora, por exemplo, são quatro de manhã e escrevo sem a preocupação de que ficarei exausta o resto do dia. Poderei dormir até mais tarde caso o sono volte. Ou dormir depois do almoço. Ou não almoçar. Férias é um período onde comer, beber e dormir a hora em que tivermos vontade é lícito, legítimo e legal.

 

O bom da sensação de ano intermitente é que as promessas de ano novo estão prontas para serem cumpridas outro dia. A academia, a comida saudável, o uso mais controlado do celular e a troca do carro por uma bicicleta vão esperar mais um pouco. Enquanto isso parte de mim fica no ano que passou aqui, driblando a insônia e fumando um cigarro que quando dois mil e dezessete realmente chegar vai ser coisa do passado. Beber menos e fumar nada também são daquelas metas. Mas só quando o ano novo chegar.


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