Posso te dar esta rosa? - Jornal Fato
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Posso te dar esta rosa?


 

"Sempre sustentava a mania de ser solidário. Era capaz de estremecer se vislumbrasse um peso demasiado nos olhares do próximo. Dobrava a esquina e sorria como se não fosse a última vez, mas trazia nos dentes um gosto doce, desejando para quem sorrisse o desejo fantástico que fosse colado o sorriso na boca do outro ." Sinceramente, adoro ver meu sorriso colado na boca do outro, adoro ver quando alguém se dispõe, sem pretensão de holofote,  ajudar o que é igual e diferente.

 

Solidariedade, de origem francesa, solidarité, remete para o significado de responsabilidade recíproca. Temos, então, um compromisso fantástico em fazer e provocar o bem no outro. E como poetizou Murilo Mendes, somos ligados pela herança do espírito e do sangue àqueles construídos à minha imagem e semelhança. (poema Solidariedade). Somos parte do outro, logo, precisamos envolvê-lo no abraço da alegria, do cuidar e querer, enfim, do encantamento em se colocar em seu lugar e oferecer-lhe a mão, talvez calejada ou macia, para que haja a amenidade da dor.

Esta semana, pude ver isso nas mulheres cachoeirenses ao realizarem um importante evento para que aqueles que não desfrutaram de oportunidades melhores sejam, verdadeiramente, presenteados com esperanças. São mulheres que me encantaram e produziram emoções em quão importante nos tornamos quando escapamos de nosso mundo e nos damos para que a solidariedade exista e finque raízes.

É urgente que fujamos do vazio comum e alavanquemos nossa melhor porção: solidarizar. Resgatar o melhor que somos, pois o ser humano nasceu para ser bom e para oportunizar, ao tão próximo e longe, as mesmas sensações, os mesmos sentimentos e a mesma poesia. Não deixemos que o individualismo, tão árduo e cruel, potencializado neste pós-modernidade, invista em nós.

Sejamos humanos, pois bem sabemos que nossa vida é ligada aos dos outros (Murilo Mendes), que nosso discurso só ganha potência porque alguém nos ler, nos ouve e nos dignifica e que só temos alegria porque alguém, sabiamente, provocou-a e não nos permitiu a lástima. Sejamos, portanto, amparo para quem precisa caminhar e o olhar vivificado para quem necessita ver além das frestas e das lacunas deixadas nas paredes e nos desafetos.

Quero, humildemente, agradecer a todos que me leem e se agraciam com a escrita. Quero agradecer as mulheres que vi disporem do seu tempo e dos seus talentos para que seja feito mais pelos nossos irmãos. Desejo agradecer a todos que acreditam no ser humano, visto que ser solidário não é somente dissipar a fome de comida, vestir quem tem frio, é também ampliar horizontes de outros, é iluminar a capacidade do seu semelhante e torná-lo solar. Sem dúvida, ser solidário é oferecer rosas e poesia para quem estava anoitecido e sedento de vida.    

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br 


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