Do alto do prédio observo que, todos os dias, um grupo se reúne na praça para orar pela cidade. Pessoas desprendidas que deixam a cama mais cedo e uma ou outra tarefa para depois com o intuito de fazer o bem. Eu, apesar de não ser evangélica, olho para essas pessoas com toda admiração e respeito que as grandes almas merecem. É preciso que estejamos livre das amarras do preconceito para enxergarmos o outro com bons olhos. O fato de eu não professar da mesma fé não impede que eu aplauda da minha janela aqueles que poderiam ajoelhar-se em sua própria casa em uma prece individual, mas, ao contrário disso, pedem que as bençãos sejam coletivas.

 

O julgamento cruel de quem não pensa da mesma forma virou prática rotineira na vida real e, principalmente, na vida virtual. Atrás de seus computadores, celulares e tablets todos são donos da verdade absoluta e indiscutível. O meu time, o meu partido e o meu modo de vida. Pessoas dizem o que pensam sobre os mais variados temas, com ou sem conhecimento. E quando o assunto é gente, o troço só piora.

 

Usando as redes sociais ou ao vivo, quando justificam a total grosseria e falta de educação com franqueza e sinceridade, a humanidade acha obrigatório dizer o que não foi sequer perguntado. A mulher de roupa decotada, o homem infiel, a moça que dorme até tarde, o garoto que sente atração por outros garotos, a criança que não tem o mesmo desenvolvimento das outras da mesma idade, o carro novo do vizinho, a viagem da colega de trabalho, o emprego da cunhada, o cabelo da balconista, a unha do caixa da padaria, o sutiã ou a ausência dele bravamente sustentada pela estudante. Tudo interessante demais e precisando da palavra desagradável dos detentores da moral e dos bons costumes. Mas o que é mesmo que essas pessoas fazem na terra? Não deveriam estar em um plano mais elevado?

 

O mundo pode ser um lugar melhor com pequeníssimos gestos. É só a gente pensar um pouquinho antes de dizer ou fazer. Não é tarefa fácil, eu sei. Mas só a prática leva a perfeição. E o momento certo de sermos mais generosos uns com os outros é agora. Que a paz que desejamos ter em nós seja estendida por onde passarmos. Que tenhamos o mesmo sentimento, seja qual for nossa filosofia de vida, dos irmãos que, diariamente, enviam a todos nós boas energia ali da praça.