Politicamente correto - Jornal Fato
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Politicamente correto



Quando eu era criança ouvia os adultos usando termos e palavras que hoje não usamos mais ou, ao menos, tentamos evitar. Aprendemos, com as novas gerações, o quanto o respeito ao próximo é importante, e acho curioso como esse respeito pode parecer nocivo para algumas pessoas. Usam o termo "politicamente correto" de forma ofensiva, como se fosse errado não rotular pessoas por suas escolhas e condições.


Minha filha, já criada com a cultura de que homofobia, xenofobia, racismo, machismo e tantas outras coisas são mais que crimes inafiançáveis, são falta de humanidade, me ensina conceitos novos todos os dias. Os valores que eu passei são firmados pelo caráter e pelo engajamento dela, uma moça articulada, linda por dentro e por fora, e que faz parte de uma gente deveria ser aplaudida de pé pelos mais velhos.


Não lembro de algum dia ter achado graça de palavras como "bichona" ou de termos como "preto de alma branca". Nunca ri de piadas assim porque, mesmo que para minha geração, e isso nem faz tanto tempo assim, isso fosse normal, para mim não soava bem. Eu, por exemplo, não sou "mãe solteira", assim como as que tiveram seus filhos depois do casamento não são "mães casadas". Somos todas mães, com todos os bônus e ônus que existem nisso. O estado civil não implica que sejamos umas melhores ou piores que as outras. Não influencia. A instituição casamento não pode e nem deve qualificar uma mãe. Assim como não pode haver condenação para as mulheres que decidem não ter filhos.


E, por falar em casamento, dia desses ouvi uma de uma jovem que "fulana é tão exigente que acabou ficando solteirona", como se não casar fosse castigo. Assim como a maternidade, casamento é missão e vocação individual. Escolha. Opção. Fulana pode ser mais feliz do que qualquer mulher casada. Ou não. Não é a situação conjugal que vai definir isso por si só. Quer "solteirice" pior que a solidão acompanhada por alguém que oprime ou violenta? Quer solidão maior do que a que ser invisível para alguém com quem divide a mesma cama?


O "politicamente correto", que não deve ser usado como ofensa, não tornou o mundo chato. Apenas nos ensinou a respeitar as diferenças e também mostrou que ser diferente não legitima uma sociedade hipócrita a nos tornar vítimas de seu preconceito.


Sejamos politicamente corretos não porque é moda, mas para que nossos erros, vícios e limitações sejam tolerados e aceitos com a mesma medida. Estamos todos no mesmo barco, em busca da evolução.

 


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