Poesia diária - Jornal Fato
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Poesia diária


 

Todos os inícios de anos são assim. Fazemo-nos inúmeras promessas que, em 31 de dezembro, mais da metade delas - ou quase todas - não serão realizadas. Mas, não nos culpemos tanto. Isso acontece por que nos lançamos em metas inalcançáveis, difíceis de serem atingidas, como se nosso corpo estivesse acostumado correr dez quilômetros, por exemplo, e aí, de uma hora para outra, nos inscrevemos em uma maratona. Dificilmente conseguiremos, ou o que é pior, passaremos muito mal dado o desgaste físico.

 

E assim temos nos sentenciado na vida. Cobramo-nos demais. Queremos manequim 38 a qualquer custo; desejamos a viagem que foge totalmente, no momento, do nosso orçamento; queremos agradar todas as pessoas; fazer todos os cursos que precisamos em menos de um ano; tornarmos pessoas organizadas de uma hora para outra (para quem não é, como eu), enfim, criamos quilômetros demais para quem precisa, primeiro, andar nos centímetros e metros.

 

Viver é diário. Nada contra metas anuais e de décadas, porém, prefiro caminhar com meus pés, mesmo que estejam com calos, sejam feios, descalços, em pequenos passos. Não fui sempre assim; queria muito abraçar o mundo, mesmo que meus braços não davam nem para o aperto de mão. Ainda, sonho viajar pelos quatro cantos da terra, ter uma ideia mirabolante, mas quero respirar devagar. Sentir a brisa da minha janela primeiro para, depois, sabe-se lá, sentir o ar de Paris, Londres, Marte, etc (brincadeira).

 

Então, não vamos exigir tanto de nós. Estabelecer metas além do nosso alcance. Criemos metas mais realistas, haja vista, nem sempre, caberemos no número 38 e não sofreremos horrores por isso. Seremos felizes nas nossas empreitadas, sem lançar enormes expectativas. Sabe por quê? Seremos frustradas porque o outro, a outra realidade nunca serão do jeito que desejamos ou idealizamos. E, se lançarmos muita tinta, o quadro ficará sobrecarregado de cores, sem definições. E um ser frustrado é ruim demais. O mundo vira qualquer cor apagada ou natureza morta, sem vida e intensidade.

 

Aproveitemos o início de 2016 e criemos metas pequenas e alcançáveis, estas que sabemos serem possíveis de acontecer. Claro que se superar é necessário para não permanecermos na linha medíocre que dá às caras na vida em sociedade, contudo, sejamos realistas e viáveis. Cresçamos no nosso fazer diário, nos dilemas e imprecisões vindos ao cotidiano. Queira, primeiro, melhorar você, resolvendo seus fantasmas e hiatos. Faça você vale a pena neste ano, sem dimensionar grandemente as suas danações.

 

Eu desejo ser mais paciente, organizada, projetar meu livro e mestrado e me dedicar mais as tarefas do afeto. Desejo ter Sol, chuva e água para que lave minha alma. Quero ter menos orgulho e manter minha hombridade... e ter o que dizer. Enfim, quero fazer o que me cabe, sem me cobrar excessivamente como fiz muito.

 

Nobre leitor, seja feliz mesmo que haja riscos. Dissolva medos em mar azul em dia de verão, plante desejos simples no quintal e queira árvore frondosa perto de si. Leia muito, queira o conhecimento amanhecido contigo- e anoitecido também- seja você o mundo melhor, que tanto disse na noite da virada.  Seja, querido, a sua melhor poesia, aquela que sentimos diariamente.

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br


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