Pensando em Você - Jornal Fato
Colunistas

Pensando em Você


Quantas vezes por dia você faz alguma coisa que seja por você? Que seja realmente prazerosa, fora das obrigações e da pesada agenda rotineira?

 

Antes de sair da cama o celular já toca. Há trabalho que precisa ser feito para ontem. Depois comprar material escolar para os filhos, almoço em frente ao computador porque foi o tempo que sobrou para estudar para a prova de daqui a pouco. Uma montanha de roupas para passar, levar o carro na oficina porque carro velho sempre deixa a gente na mão. Tentar, mais uma vez, mudar o endereço de entrega das contas porque, desde as recentes mudanças nenhuma conta chega mais no dia certo. Mandar consertar a pia do banheiro que está vazando e passar no supermercado porque a geladeira mais parece um deserto gelado, salva apenas pela garrafa d'água quase vazia, uma maçã murcha, um ovo com a casca quebrada e uma lata de extrato de tomate aberta.

 

E as obrigações não param. Ligar para os pais e passar para dar um beijo, mesmo que rapidinho. Comprar um presente para amiga que fez aniversário mês passado, visitar o bebe da vizinha, regar as plantas que estão perto da morte e desmarcar médico porque, ao final das contas, a saúde pode esperar.

 

Colocar bateria no relógio da cozinha que parou e deixa a gente perdida no tempo, apesar de toda tecnologia. Comprar pilhas para o controle remoto e passar no banco para pedir um pequeno aumento no limite do cheque especial, já que sempre falta salário para esses meses que parecem cada vez mais longos. Atualizar-se das últimas notícias enquanto o sinal não abre e responder as inúmeras mensagens dos infinitos grupos e WhatsApp, e aproveitar para lembrar de fazer uma triagem e sair de alguns desses grupos causando o mínimo possível de desconforto. Passar na ótica e regular o óculos, remarcar depilação e comprar acetona porque o esmalte está descascando e, mais uma vez, a manicure fica para outro dia.

 

E no final de tudo? Cansaço. Não sobrou dinheiro para a sessão de massagem. Não sobrou disposição para o encontro com as amigas. Não sobrou perna para uma caminhada. Não sobrou cabeça para um livro bom. Não sobrou criatividade para escrever um novo texto. Não sobrou vida. E assim acaba o dia, a semana, o mês, o ano.

 

E, se é preciso saber viver, vamos começar agora. Já. O tempo urge e a vida é um graveto prestes a estalar. Os prazeres deixados para depois não estarão mais em lugar nenhum, a não ser lá atrás, no tempo que perdemos.


Comentários