Pão e Circo - Jornal Fato
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Pão e Circo


 

Desculpem-me os leitores, mas a fala, hoje, servirá como bandeira de indignação, como é o papel da palavra. Desenharei meu discurso sob o viés da crítica e da constatação de que, com os ventos atuais, nossa estrutura social, econômica e política será levada para as marés do acaso, sem chances de alcançar o caminho certo para navegação.

 

Dói-me, como cidadã e ser humano, tratar de assuntos que esbarram na ausente vontade política de- quase- todos nossos representantes. Nunca vivemos um tempo de tamanho descaso e falta de padrões éticos  por aqueles que deveriam ser desenhos da nossa voz e dos nossos desejos . Segundo o dicionário, a política define-se como a arte de bem governar, de cuidar da coisa pública, mas, leitores, ela se tornou ramo de negócio para melhoria de espécies únicas.

 

Vemos a falta d'água, o aumento das contas de luz e água, aumento do imposto de renda, aumento de combustíveis em contrapartida não presenciamos o mesmo querer no trabalho político para a coletividade. Cheguei a um ponto de descrença, de desapego ao que acreditava ser possível por meio de nossa política. Estamos, sem dúvida, em um lamaçal de desonestidade, da troca de favores mesquinhos que solidificam ainda mais as armações, os acordos escusos, os olhares recriados na hipocrisia e na falta de percepção solidária e justa.

 

Precisava sentenciar isso no texto, pois me sinto pesada e entalada diante das atitudes desmoralizadas e mentirosas daqueles escolhidos por nós. Porém, triste mais ainda por ver um povo que abaixou os braços, aceitou desculpas tenebrosas e reverenciou tais infelizes. São infelizes, sim, porque sorrir à custa de dores alheias, realmente, não garante Sol e flores na janela, nem paisagem agradável.

 

A população mostra-se apática como se tivesse bebido em pequenas doses do veneno e não consegue gritar, resistir e inconformar. E, sem inconformismo, não há construção social, não há derrubada de árvores podres nem tão pouco a retirada  das ervas daninhas encontradas no jardim. Custo acreditar que dormimos e deixamos levar nosso ouro como mesmo fizeram figuras históricas naquele cenário da colonização. O que aconteceu conosco?

 

Acostumamos. As contas aumentam, pagamos sem pestanejar. A violência aumenta, assistimos pela televisão. Os casos de corrupção são mostrados e estigmatizados, balbuciamos algumas sílabas e voltamos a votar nas figuras emblemáticas sem ética. Repetimos, aceitamos e nos anestesiamos, e me parece que a anestesia não perde seu efeito. Tal líquido já atingiu nossas veias, carnes, sistemas e, o pior, nosso organismo da moral e da ética.

 

E, sem definição, em uma linha visível dos efeitos nocivos e dos valores do bem, seremos aniquilados e viveremos "a míngua", sob o " pão e circo" romano. Cabe a nós fugir das geografias periféricas e habitar o centro. O centro da indignação, da autonomia, e da vontade política. Antes de escolhermos os representantes, escolhamos ser figuras políticas, atores sociais e formadores de opinião. Caso contrário, os ideais de democracia, tão sonhados, continuarão adormecidos no papel. Acordemos!

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br


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