Os sonhos de sábado já não estavam nela  - Jornal Fato
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Os sonhos de sábado já não estavam nela 


Cuidou das unhas e do cabelo. Fez depilação e quase derreteu o cartão de crédito em uma lingerie nova. Separou um perfume especial, um vestido que realçava suas curvas e o anel que ele gostava. Comeu pouco aquela noite, tomou uma taça de vinho e ensaiou em frente ao espelho os melhores olhares. Quase não pode dormir, ansiosa pelo dia seguinte.

 

Acordou cedo, mas achou melhor ficar mais um pouco na cama. As horas não passavam, por mais que inventasse coisas para fazer. Folheou revistas, assistiu TV, lavou a louça, andou de um lado para o outro. Leu e-mails, telefonou, tentou dormir mais um pouco, fez um bolo de abacaxi. E tanto fez que por fim achou-se atrasada.

 

Tomou um banho demorado e preparou-se com o esmero de uma adolescente que vai ao primeiro encontro. Cada detalhe foi feito e refeito. Não havia erro nem mal feito. Quando olhou-se no espelho, sabia-se perfeita.

 

Na hora marcada sentou-se como uma rainha, esperando o telefone tocar. Afim de controlar a ansiedade, serviu-se de uma dose de whisky. A cada minuto futucava o telefone: será que está com defeito? Será que ele perdeu meu número? Será que a casa dele pegou fogo? Será que alguém morreu? Será?

 

Depois de infinita meia hora, resolveu ligar. Afinal, qualquer será seria possível. Ele não atendeu. Obviamente porque estava a caminho. Serviu-se de mais uma dose de whisky. Consultou diversos sites para ver se havia acontecido algum acidente no percurso. Nada. Ele deve ter sido preso por algum engano. Mais uma dose e ele continua sem atender, sem responder as mensagens, sem sinais de fogo e sem contato imediato de qualquer grau. Mais uma dose? Claro que ela ta afim.

 

O telefone tocou e ela levantou de um pulo. Era sua mãe perguntando se ela tinha esquecido do batizado do sobrinho. Já era domingo, mas ela ainda estava com a roupa do sábado, com a maquiagem do sábado, com o anel do sábado. Apenas os sonhos do sábado já não estavam mais nela.

 


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