Os outros - Jornal Fato
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Os outros


 

As mídias sociais são mesmo uma terra estranha. Terra em que as pessoas se expõem inteiramente e nós as culpamos e rejeitamos - pois são exibicionistas carentes ou arrivistas em busca de aceitação. Mas também é a terra em que as pessoas se expõem inteiramente, e então nos comovemos com suas dores e alegrias, lamentando ou curtindo cada momento especial de sua vida.

 

Por que aprovamos uns e condenamos outros? Por que uns são ridículos e outros são queridos? Por que nós mesmos, ainda que reprovemos tanta exposição, não resistimos por vezes a colocar à prova da avaliação pública os nossos intestinos emocionais e emocionados?  Que lugar é esse onde um mesmo comportamento nos provoca aversão e ódio e também a empatia e o acolhimento?

 

O fato é que estamos sempre em busca de um espelho. Somos seres narcísicos, que se realizam enaltecendo suas próprias virtudes. Se aplaudimos o outro, é porque nos vemos nele, encontramos em alguma faceta dele algo que poderia nos pertencer. Não olhamos para ninguém, não ouvimos ninguém, a não ser a nós mesmos. Buscamos identificação. Não precisa ser a sintonia perfeita. Se  temos com o outro qualquer afinidade, já nos convencemos: está aí uma pessoa admirável. Por outro lado, os diferentes nos enojam. Tão boas qualidades dando sopa por aí, por que escolher logo os defeitos e ainda mostrá-los nas redes sociais?

 

Portanto, o que nos incomoda não é a exposição - o número de selfies, a estampa da camisa, o atrevimento daquele que opina sobre um assunto que não conhece, a foto do prato degustado ontem à noite, o evento badalado, a vaidade que transborda de cada post. O que não perdoamos é ver que o meu avesso existe e se regozija. Os idiotas são os outros. 


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