Obrigada, mãe!
Um dia me disseram que ser mulher era perigoso.
Fiquei com medo, mas me desafiei.
Não que seja forte, peituda.
É que a resposta estava como martelo.
Ali dentro de mim estava o prego.
Me olhei no espelho
e vi que ter espírito é bonito.
As mulheres de minha casa nunca se renunciam.
Costuram remendos, cozinham em banho-maria seus sonhos.
Organizam as tarefas e não se fazem de rogada.
É preciso se refazer, fazer a comida, comprar mantimentos e não esquecer do batom.
Ah, isso minha mãe adora.
Foi com ela que vi que ser mulher não é tão perigoso, têm partidas, chegadas, mas nada que não se possa resolver com perfume, batom, felicidade e prudência.
Não sou contra movimentos femininos, mas mulher não precisa se cortar pra ter sua escrita, lugar na fila e independência.
É tarefa simples, sem análises complexas, artigos metódicos, sem medo de pisar no chão.
Em minha casa, as mulheres sabem compor, reinventam suas próprias receitas e poesias sem livros e glossários. Sem teses e pesquisas de cunhos científicos ou filosóficos.
Falam alto, choram, adoram recados românticos, falam de novelas e política, riem de seus erros, fazem novas propostas.
Exibem sentimentos, enfrentam filas, divagam sobre ideias e perspectivas, analisam com exatidão.
Decoram cenários, fictícios e cotidianos, fincam raízes, adornam-se com flores e riem, constantemente, de si mesma.
Minha mãe adora ter o que dizer, deixar marcas e saber aplaudir.
Gosta de empoderar opiniões e relativizar conceitos femininos e de existência.
Minha mãe, meu exemplo maior, desconstrói paredes e significa sentenças.
Traduz sempre sua forma mais linda, simples e complexa de amar.
Sei que não se negar é indispensável para que eu possa sorrir e dizer palavras mais bonitas, mesmo que os dizeres estejam tão bolorentos.
Mesmo que as pessoas se convertam em seres automáticos e dissimulados.
Mesmo que os homens excluam nossas verdades e existências.
Minha mãe me ensinou que, apesar dos medos e das cercas, não esmorecer é preciso.
Eu te amo, mãe! Obrigada por ser tão mulher!
(Feliz aniversário, dona Leida!!!)