O valor do socialismo e demais ?ismos? - Jornal Fato
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O valor do socialismo e demais ?ismos?


O título desse texto, certamente, chamou sua atenção. Espero, sinceramente, que esteja de mente aberta para um diálogo crítico sobre o tempo atual e os modos de produção que o campo do conhecimento construiu ao passar dos anos, com o objetivo de consolidar uma forma sustentável de vida dos seres humanos no planeta Terra. Esse aí, do título, tornou-se o assombro da ingenuidade intelectual de muitos brasileiros no decorrer do século XX, ganhando seu remake no XXI. Vamos entender a evolução histórica dos "ismos"!?

 

O sufixo "ismo", nesse texto, significa o conjunto de características econômicas, sociais, políticas e culturais que marcam determinado modo de produção. O Escravismo, ligado à prisão por guerra, dívida e/ou origem do indivíduo permitiu a construção das pirâmides egípcias, o aparecimento da Democracia Grega e a expansão Imperial Romana na Antiguidade. No Ocidente, esse mecanismo se exauriu no final da Idade Antiga no século V d.c., abrindo espaço ao Feudalismo, marcado pelo trabalho servil camponês em troca de uma vida segura no complexo do castelo medieval/feudo. Depois dessas informações que permeiam um conhecimento de nível médio dos nossos estudantes regulares, ponderemos: por que o Feudalismo surgiu?

 

O sistema feudal surgiu das falhas do escravismo. A partir do momento que faltaram os escravos e esses se revoltaram perante a sua condição, concomitante com as invasões de povos dominados pelos romanos, acabou a Idade Antiga e com ela seu modo de produção. Foram as críticas a um sistema caduco que sepultou o escravismo antigo. Por volta do século XII, houve o Renascimento Comercial e Urbano, base para o surgimento do Capitalismo, modo de produção majoritário no mundo, a partir do século XV. Era o fim da Idade Média e o início da Moderna. Por que o Capitalismo surgiu? Perry Anderson afirma que ninguém acreditava mais que o sistema feudal pudesse garantir a sobrevivência da humanidade perante as necessidades e características dos tempos modernos. O sistema nascia com o comércio e o trabalho assalariado como pilares dos novos tempos, com a expectativa de ser uma forma de todos conseguirem viver com dignidade e igualdade de condições para prosperar.

 

Com o advento do processo histórico da Revolução Industrial no século XVIII, os trabalhadores foram submetidos a uma carga horária de trabalho que chegou a 18h/dia, péssimas condições de vida, de trabalho e com salários pífios, não garantindo a própria subsistência. Nesse contexto, surge o Socialismo Marxista, que apontava esses e outros problemas do Capital, defendendo a formação de sindicatos, partidos políticos e uma ação operária de confronto junto aos patrões. É inegável a contribuição socialista para correção das distorções do capitalismo, como também é fato a existência de suas próprias abominações, como ditaduras, desrespeito aos Direitos Humanos ao redor do mundo, entre outras. Num procedimento científico, toda tese está aberta à refutabilidade, logo o Socialismo também. Acredito que a leitura de Demerval Saviani acerca do socialismo ser "uma crítica ao capitalismo" é a correta. Que fique claro: Se a humanidade entender que está no momento de um outro modo de produção, que assim seja; caso contrário, segue o baile!

 

Por essas e outras, viva o Socialismo e que venham outros "ismos"! As críticas nascem em momentos nos quais as coisas não vão muito bem, logo, se santificarmos o Capitalismo tal qual como está, estaremos nos acovardando, pior, transformando esse sistema em algo sagrado, ou seja, que não pode ser questionado. Que existam mais e mais debates e participação das pessoas no pensamento daquilo que interfira nas suas vidas e que o rigor de sistemas "A" ou "B" não esteja acima da humanidade.

 

Rafael Magalhães Costa é professor de História e membro do PHD.


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