O melhor remédio ainda é o respeito - Jornal Fato
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O melhor remédio ainda é o respeito


Já pensou, se o governo distribuísse vacinas anti-gays nos postinhos de saúde? Ou, nas escolas os professores ao invés de ensinarem o português e a matemática ensinassem a gramática heteronormativa, juntamente, com os cálculos para ser um hétero machista e medíocre. Ou, quem sabe, as igrejas reservassem cultos e missas especiais com teor de censura homossexual.

 

Sem homossexuais, com certeza Byoncé, Madona e Anitta - e todas as divas pops perderiam seus exércitos de fãs, os "heteros" não teriam mais como frequentar as baladas gays com suas desculpinhas. Vai querer me dizer que eles vão também acabar com as gírias gays? A partir de agora "lacrou", "arrasou" e "miga, sua louca" serão automaticamente banidas do nosso idioma? Qualquer ser falante - gay ou simpatizante - que ousar reproduzir qualquer tipo de palavra transviada será punido severamente obrigado a repetir centenas de vezes "top", "breja" e "berrô"?

 

Minha dúvida suprema: porque se preocupar tanto com a vida alheia dos outros?  O que a tal bancada evangélica tem a ver com a vida sexual dos gays? Por que eles não fiscalizam os políticos corruptos ao invés de criarem uma cura gay? Eles poderiam aproveitar o gancho e criarem a cura da corrupção, da canalhice, da hipocrisia, do preconceito ... Na verdade, eles poderiam curar a alma deles, pois os verdadeiros doentes estão por trás disso.

 

Chega ser cômico, pensar numa cura gay sob o contexto do nosso país. É só olhar o caos da saúde pública no Brasil: poucos médicos, falta de medicamentos, estruturas de hospitais arcaicas e perigosas, filas de esperas e milhares de pessoas morrendo - diariamente - por causa um atendimento de péssima qualidade, em qualquer desses hospitais públicos, que parecem até matadouros. E, mesmo assim eles inventam a patética e enojável cura gay.

 

Já não chega o preconceito que um homossexual sofre todos os dias? As dificuldades de aceitação em casa, na escola, na faculdade e até mesmo no serviço. Não basta o preconceito no shopping, no restaurante, na praia, no ônibus? Não bastam os olhares julgadores das crentes fervorosas da igreja da esquina? Não basta as pessoas lhe rotularem por promíscuo apenas por você amar uma pessoa do mesmo sexo? Ninguém escolhe a orientação sexual!

 

É revoltante, após anos de conquistas pelos direitos chegarmos a esse retrocesso! Não foi fácil conseguir o direito de adoção por casais homoafetivos, o direito dos trans usarem os nomes sociais, o reconhecimento da união estável e muitos menos da inclusão do companheiro na declaração de imposto de renda. Foi tudo árduo e penoso.

 

O melhor remédio ainda é o respeito. Não é porque eu sou Flamengo, que preciso odiar quem é Fluminense. Não é porque eu sou fã de Claudia Leitte, que preciso enojar Ivete Sangalo. A sua preferência não deve invadir a do outro. Cure sua alma, antes de relinchar qualquer gota de preconceito!


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