O girar da roda d?àgua - Jornal Fato
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O girar da roda d?àgua


Entre as paredes brancas do quarto pequeno, ele se olhava no espelho da cômoda. Olhava-se como se tentasse encontrar algo que estivesse errado, mas não encontrou nada de diferente que lhe causasse desprezo. Na verdade, a angústia surgiu quando ele não encontrou nada de novo. A tristeza então o percorreu, mas no milésimo de segundo aquilo era como se uma pedra caísse em sua cabeça.

 

A tristeza para ele nunca foi permitida, era um pecado mortal não sorrir, chorar era inadmissível, até mesmo em perdas significantes. Em seu mundo, quando alguém partira, não se lamentava, mas sim comemorava-se uma nova estação e progressão da pessoa. Um ponto que sempre era questionado pelas crianças, sábias, puras e eternas, crianças.

 

A criança tem um dom que mal cabe no egoísmo do mundo. Sua ingenuidade muitas das vezes está fora dos livros, até dos mais complexos. Com certeza, até hoje não se criaram nada tão magnifico quanto o olhar de uma criança.

 

Enquanto eu continuo no meu quarto a questionar a minha tristeza e o porquê de não poder senti-la, descobri, observando uma brincadeira dos jovens que a tristeza ou lástima não surge em momento algum, sempre se é feliz, porém, em um determinado momento, quando uma criança chora por ter se machucado a mãe corre para socorre-la e tudo passa.

 

Sentir-se feliz todo sempre é exagero e não existe, mesmo para os nossos governantes que impuseram essas crenças, sentir-se triste e ficar triste, é natural e necessário para o desenvolvimento próprio.

 

Mesmo no meu mundo, sentir-se pleno em felicidade não é continuo, mas sim passageiro, porém, são essas passagens, quem dão movimento e gás para o girar da roda d'água que cai incansavelmente a metros da minha janela. Sem isso ela estaria intacta. Mas o impulso a mais faz toda a diferença. Então eu resolvi sair do meu quarto para assim conhecer e viver o mundo pelo lado de fora.


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