Não é fácil ser eu no natal  - Jornal Fato
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Não é fácil ser eu no natal 


Assim como acontece todos os anos, chegou o natal. A maior parte das pessoas é contagiada pelo que chamam de espírito natalino e saem às compras como se não houvesse amanhã. Como que por obrigação a saga de encontrar um presente para aquele parente impresenteável é estressante, e nas lojas lotadas todos disputam a sorte de encontrar algo que sirva e seja barato. O calor é quase é quase insuportável e a qualquer momento pode cair uma chuva forte que vai atrapalhar a chegada no conforto do lar. O trânsito pode ser qualificado com qualquer palavra que não é de bom tom pronunciar em público. Em qualquer esquina é possível encontrar um amigo bem humorado que vai te dar um belo abraço e desejar feliz natal com a euforia que eu jamais serei capaz de retribuir. Não me levem a mal. Meu desânimo no final do ano não é voluntário e não tem cura. Já tentei até felicidade em pílulas.

 

Como essa época do ano contagia a maioria, o baile precisa seguir. Eu até cumpro alguns protocolos, e estar com minha família não demanda assim tanto esforço. São as pessoas que eu mais amo no mundo, então tento mentalizar que estaremos juntos e comemorando mais uma vez, como fazemos em outras datas. Comemoramos a vida, o amor que nos une e contamos histórias engraçadas. Contar boas histórias e tornar tudo mais leve é uma característica que temos. O problema é que alguns não estão mais aqui, e a nostalgia acaba tomando proporções gigantescas. Mas aí tem as crianças que vão chegando e preenchendo espaços. A ordem natural das coisas vai no fluxo.

 

Com quase tudo eu já me conformei. Só não me conformo com Simone cantando "então é natal". Ninguém gosta. A opinião de que é irritante é unânime, e, por favor, me corrijam se eu estiver errada. Desnecessário que os postes e as lojas toquem isso. E, para piorar, virou uma síndrome colocar a música nas legendas das fotos nas redes sociais. No calor das lojas cheias e no caos do trânsito "então é natal" mais parece fundo musical de filme de terror, e juro que não estou exagerando.

 

Ainda é sexta-feira e já estou mal-humorada, cansada e, de certa forma, um pouco triste. Me julguem. Podem fazer isso, mas não é mimimi. É praticamente uma psicopatia. A psicopata que não consegue encarnar o espírito do natal sou eu mesmo. Então, já que dizem que é tempo de paz e amor ao próximo, perdoem minha ignorância. Tenham um natal feliz e, em suas orações, peçam para que eu melhore. E, quem sabe, no próximo ano, eu esteja cantarolando pelas ruas cheias de presentes, usando um gorrinho vermelho e sorrindo em meio ao caos.

 


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