Mulheres, sacos de pancada - Jornal Fato
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Mulheres, sacos de pancada


Estive em abril em uma reunião em Vitória promovida pela Polícia Civil, para ouvir sobre o Programa Homem que é Homem, que trata protagonistas da violência contra a mulher, e voltei cheia de esperanças.

 

Primeiro, porque o Prefeito Victor Coelho assinou convênio para que o "Homem que é Homem" fosse implantado em Cachoeiro. A equipe, formada por psicólogas e assistentes sociais do CRAS e do CREAS, já está sendo capacitada.

 

Estatísticas da Grande Vitória mostram que dos homens que participam do Programa, apenas 10% voltam a agredir suas companheiras. Outra boa notícia dada nesse encontro é que a Delegacia da Mulher, que é de responsabilidade do Estado, mas funciona num imóvel cedido pela Prefeitura, teria finalmente uma sede própria e melhor.

 

Hoje as mulheres que denunciam ficam sentadas ao lado de seus agressores enquanto aguardam atendimento, e essa é uma preocupação dos profissionais da DEAM. A mulher já sobe para depor intimidada.

 

Outro problema sério é que as profissionais trabalham em espaços exíguos e em condições inadequadas. Isso não é bom para ninguém, num ambiente em que o estresse é companheiro de todos os dias. As mulheres chegam fragilizadas e vulneráveis e precisam do melhor atendimento, prestado por profissionais valorizadas, dignamente instaladas e preparadas para lidar de forma serena e educada com as mazelas e contradições provocadas pelas feridas abertas pela violência doméstica. Espero que a nova sede seja para breve.

 

Existe muita mulher sendo brutalmente espancada em Cachoeiro. Outras são estupradas e assassinadas. Isso é recorrente. Recentemente uma foi arrastada pelos cabelos, à luz do dia, em um bairro da cidade. A polícia foi chamada, mas quando a viatura chegou, a mulher, provavelmente por medo, disse que não havia acontecido nada e que estava tudo certo.

 

A amiga que chamou a polícia foi ameaçada e está apavorada. Desde o lançamento do Programa do Laço Branco, em março, a Prefeitura de Cachoeiro quer reunir homens de bem e não agressores da sociedade organizada para ajudarem a combater esse grave problema. As palestras já foram iniciadas. O próximo passo, que é mobilizar igrejas, instituições e associações de moradores, também já está sendo dado.

 

Quando lançou a Ronda de Apoio à Família - RAFA, a Guarda Municipal somou esforços importantes para dar suporte às vítimas que têm medida protetiva, a partir de visitas tranquilizadoras. É mais um suporte para mulheres que têm medo da própria sombra, de tanto serem espancadas por longos anos. Suas casas frequentemente recebem visita da viatura e da equipe responsável pelo programa.

 

Estamos estabelecendo parcerias com as faculdades para que haja atendimento jurídico e psicológico. No Centro Especializado de Assistência Social - CREAS, que atende individualmente e em grupo mulheres agredidas, os casos não param de chegar. Na Secretaria de Desenvolvimento Social existe uma equipe comprometida em dar toda a assistência a essas mulheres.

 

É bom que saibam que não estão sozinhas. Mas ainda há muito o que se fazer, porque muitas, que sofreram espancamentos e violência psicológica por mais de 30 anos, hoje vivem a base de remédios prescritos por psiquiatras, frequentam psicólogos e são tratadas como loucas pelos agressores, que geralmente querem tomar tudo que elas ajudaram a construir ao longo da vida.

 

É preciso dar um basta à violência contra a mulher. Mas esse objetivo só será alcançado quando a sociedade entender que em briga de marido e mulher todo mundo deve meter a colher. A violência doméstica é um problema de todos nós. É hora de gritar cada vez mais alto. E por falar em gritar, a Viatura PC 1585, doada pelo Governo Federal à DEAM Cachoeiro, está atendendo na cidade?

 

 


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