Morte e Enterro do Véio Simão - Jornal Fato
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Morte e Enterro do Véio Simão


Higner Mansur

 

Vieram avisar ao Vereador Horácio que o velhinho estava morrendo e não tinha ninguém da família a assisti-lo. O vereador, como sempre nessas ocasiões de emergência, nem ligou para o resto do que tinha a fazer. Partiu. Chegou a tempo de assistir, no hospital, ao último suspiro de quem lhe dera uns trinta votos no Deserto Azul.

 

Levar para a roça o corpo era a questão. Caixão? Fácil arrumar: tirou do bolso e passou para o papa-defuntos; não há fila que resista a pagamento à vista. Do jeito que as coisas estão, o que cheire salário mínimo pulando de um bolso para o outro, fura qualquer fila, resolve qualquer problema. Condução de morto estava difícil. Tudo ocupado, parece que todo mundo melhor de vida resolverá aproveitar aquele dia para o descanso eterno. E alguns nem deviam ter tanta pressa, pois, descanso mesmo, eles não irão conseguir.

 

Mas nisso o vereador é imbatível. Já que a morte chegou, morto tem mais é que ser bem tratado, e rápido, pois se é velho, nem por isso é santo, e no calor todo mundo fede.

 

Tanto fez e tentou que empurrou o caixão do morto pela parte traseira do rodado Gol/86, indo ele (defunto) quase vazar o vidro dianteiro do veículo (como é que pode!?). Seguiu sozinho para Deserto Azul. Melhor dizendo, ele vivo ao volante e o morto no caixão, pés para frente, no banco do carona. A toda hora o vereador empurrava corpo e caixão, que teimavam em cair por cima dele, estrada esburacada, chão maltratado, curvas fechadas. Diabo de Prefeito! Enquanto empurrava velho e caixão, era todo carinho: - "Chega pra lá véio, se não como é que eu dirijo?".

 

Chegou de noite, noite escura, bateu na porta, acenderam o lampião, anunciou a má notícia e o filho do velho colocou as mãos na cabeça, reclamou, espraguejou, depois chorou, depois recuperou a razão, depois perguntou:  - "Meu Deus, e agora, o que faço para buscar o véio Simão?" (Era assim que tratava o pai).

 

Sorte dele que vereador como o Vereador Horácio não perde tempo, não deixa serviço pela metade, não faz por menos - "Não precisa fazer nada, meu companheirinho. Véio Simão já está ai fora, com caixão e tudo. As velas estão aqui e tudo para o velório eu trouxe. Falta mesmo é eleitor, digo, povo, que espero, amanhã, encha a capelinha, que o defunto merece. E Frei Toninho vem cedo para encomendar o corpo." E foi descendo caixão, corpo e a parafernália necessária ao descanso eterno. Menos pinga e café forte, que esses não têm casa de defunto que já não esteja apetrechada.

 

E não é que no outro dia, manhãzinha, a capela estava com um montão de gente velando Véio Simão. Não é que o desgraçado do velho, com aquela carinha triste e desamparada, tinha tanta gente a lhe respeitar. Voto a dar com o pau.

 

Foi ai, no aproveitamento das horas que antecederam ao enterro, que os olhos do Vereador Horácio brilharam como nunca. Brilho inocente, de dever cumprido. Inocência que falta na falta de brilho dos olhos de outros políticos que andam fazendo coisas que não são de admirar: foi quando o Vereador soube que "Seo" Francisco, outro "véio", tinha sofrido derrame e as coisas não estavam muito boas para ele não.

 

Samuel Wainer e Cachoeiro

 

Samuel Wainer foi dos grandes jornalistas dos turbulentos tempos do governo Vargas, primeira metade da década de 1950. Em 1980, semanas antes de morrer, o jornalista gravou extensa entrevista que ocupou 53 fitas. Nelas contou tudo o que sabia, tudo o que viveu, tudo o que se lembrava da política e da imprensa nacionais. Da política e da imprensa, eu disse. A primeira edição da autobiografia, a partir dessas gravações foi publicada em 1987 pela Record, título: "Minha Razão de Viver".

 

Samuel Wainer conta tudo de política e jornalismo, já disse. A revista "EU&", de meados de 2005, traz comentário do articulista Tom Cardoso, que envolve nosso Rubem Braga, dos poucos que escaparam da metralhadora giratória de Wainer: - "Para Augusto Nunes não era sempre que os romances de Wainer tinham final feliz... Perdeu Bluma, a primeira mulher, para Rubem Braga. A terceira, Danuza Leão, para Antonio Maria...Antes de sua autobiografia ser publicada, havia um certo suspense sobre a possibilidade de Wainer falar ou não abertamente de seus casamentos e aventuras amorosas. Durante a edição do livro, Augusto Nunes foi jantar com o amigo Zuenir Ventura. No restaurante, avistaram Rubem Braga tomando café numa mesa ao fundo, emburrado. Ventura sugeriu a Nunes que fosse até lá contar ao cronista que ele estava editando a inédita autobiografia de Samuel Wainer. "Aceitei a provocação e fui conversar com o Rubem. Ele me olhou com cara de poucos amigos, mas, assim que revelei a ele sobre o livro, sua fisionomia mudou. Abriu um sorriso meio amarelo e me perguntou, ansioso: "Me diga, rapaz, o Samuel fala sobre algum caso amoroso na autobiografia? Entra em detalhes sobre o fim de seus casamentos?" Quando respondi que não, ele, aliviado, soltou a respiração e disse apenas uma frase, com um olhar distante: - "Que grande jornalista foi o Samuel...".

 

Frases soltas por aí

 

Rabino Nilton Bonder, em "O Crime Descompensa": - "Se cada indivíduo pudesse cultivar sua divina capacidade de denunciar os hábitos, a complacência, as arrogâncias, os caprichos e as injustiças de nossa sociedade, o mundo seria transformado pela prática da responsabilidade".

 

Lucas Schuina, jornalista do confrade Aqui Notícias, em entrevista que me fez, há um ano, onde ele captou com correção meu pensamento, que não mudou: - "Diz Mansur - "Ninguém precisa ter diploma para exercer cargo público. Os piores vereadores que eu já vi, não tinham um diploma, tinham dois", opina. Além disso, Mansur, com sua experiência, se coloca à disposição para auxiliar os mais novos no oficio da vereança e elogia o papel dos "vereadores de comunidade", aqueles mais ligados aos seus redutos eleitorais, e empenhados em demandas mais urgentes da população.

 

- "O que é preciso é ter cuidado na relação com o Executivo. Quando o vereador pede um favor ao prefeito, ambos ficam moralmente comprometidos. E isso prejudica o real trabalho dos vereadores, que é legislar e fiscalizar", alerta. É por isso também que ele não se empenha em promessas quanto à execução de obras daqui e dali, pois considera que é algo que foge ao papel dos legisladores".

 

Humberto Gomes, no facebook, comentando propostas para o Município de Cachoeiro, propostas por Christiane Peixoto de Carvalho: - "Propostas maravilhosas; morro de inveja de um grande amigo que mora na cidade de Caçador, Santa Catarina. Ele vive me mandando fotos do Parque Municipal onde ele passeia sempre com seus filhos. Tenho dois filhos pequenos e Cachoeiro carece muito de locais públicos decentes,nos quais possamos passear e nos divertir com segurança e qualidade".

 

Erasmo de Rotterdam - "Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida".

 

Padre Vieira - "Há casos em que por pedir licença se perdem as mais gloriosas ações".


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