Misoginia - Jornal Fato
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Misoginia


Já faz tempo que a ética e moralidade seletivos me incomodam profundamente. Principalmente quando a fúria dos éticos seletivos se volta contra as mulheres que ousam ocupar espaços de histórica predominância masculina. 

 

Num passado recente nos defrontamos na igreja em que frequento há mais de 40 anos com um pastor com sérios desvios de caráter e de conduta. 

 

Nós o denunciamos em todas as esferas possíveis. Havia homens conosco nesta luta, mas a denuncia começou por mim e outras mulheres. Claro que não deu em nada. 

 

As denúncias foram minimizadas e a máscara só caiu mais tarde, quando ele tropeçou na própria arrogância. No tempo de Deus. 

 

A introdução é necessária para abordar o incômodo de ver a Presidente Dilma sendo chamada de puta, vaca, vadia e outros adjetivos, não pela avalanche de denúncias, mas por ser mulher. Condenação sumária por questão sexista. 

 

Nunca ouvi ninguém chamando Fernando Henrique, Sarney, Collor nem Itamar Franco e outros presidentes de boi, vadio ou qualquer outro adjetivo pejorativo, mesmo quando denúncias vinham a tona.  

 

Quando Itamar foi flagrado no Carnaval do Rio de Janeiro ao lado de uma modelo sem calcinha, claro que os holofotes se viraram para ela, a safada. Ele, o garanhão invejado e aplaudido. 

 

A liturgia do cargo (como diria o Sarney) foi desprezada, mas ele é homem. Pode tudo. Denúncias contra Collor, Sarney, Itamar Franco e outros políticos, todos homens, nunca faltaram.  

 

Não sou filiada a nenhum partido político, é bom que isso fique muito claro. Torço para que todos os corruptos, de qualquer esfera de poder, apodreçam na cadeia. Se o Brasil fosse um país de homens sérios faltaria espaço para tantos corruptos históricos e notórios nos presídios do país. 

 

Mas enquanto tivermos que nos deparar com a questão de gênero e com o corporativismo, o podre poder será manipulado por figuras como Eduardo Cunha e outros fascistas, que posam de paladinos da moralidade. Não há santos nessa história. 

 

Ah, o filho do Fernando Henrique com a jornalista Míriam Dutra enquanto era casado e presidente? Claro que a culpa não é dele. Vadia foi ela. Aos homens todo o poder. Às mulheres, o assédio, o desrespeito, as humilhações e os rigores da lei.


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