Meus nobres - Jornal Fato
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Meus nobres


 

Caros leitores, é com grande satisfação que volto escrever para vocês. Passei um tempo, é verdade, sem escrever neste canal midiático, mas confesso que pintou saudade. Até porque escrever é ato inerente à minha tarefa de existir. E como disse Simone de Beauvoir "escrever é comungar com o mundo", é manter diálogo íntimo com a humanidade e alinhavar todos os fenômenos existentes com a nossa capacidade de percepção, crença e pensamento.

Escrever não é decretar sentença nem tão pouco aprisionar ou absolver alguém ou suas considerações. É alimentar o mundo com experiências inaugurais e reinventar alicerces antes não vistos e/ou ressignificados. Não há produção de conhecimento científico, filosófico e artístico sem atrevimento com a escrita. E é por isso que me considero audaciosa.

Gosto, com muito gosto mesmo, registrar considerações e ditar meus verbos com voz de desassossego. Talvez, seja minha única forma de denúncia e de paz. Sei que fui laçada pela escrita e, por mais que tente me enveredar por outras vertentes, sou abduzida pelas letras e pelas palavras.

E nossa língua é um escândalo de tão linda e rica. Temos um idioma difícil, eu sei, mas de uma poesia... incalculável. Somos a quinta língua mais falada no mundo, com aproximadamente 280 milhões de falantes. É muita gente se expressando na nossa língua, dizendo chatices e obviedades, tudo bem, mas muitos falantes utilizando o discurso para produzir elementos inovadores, poemas únicos, letras musicadas atemporais que para todo o sempre ressuscitarão emoções, discursos impactantes e falas que aproximam as pessoas, trazendo para o coração.

Não tem como não amar a escrita, a capacidade de socializar o que antes adormecia na individualidade. A tentativa, porque somos humanos tentando todos os dias, de tornar comunicável o que muitas vezes perece no não dito, no improvável, no cômodo empoeirado das lembranças, nos cortes da alma.

Dizer é humano. Dizer é apropriar-se do outro enquanto há o colóquio, enquanto há a "conquista" por meio das linhas condutoras das palavras. É desnudar-se e descortinar o que se fazia obscuro atrás da janela, da paisagem pouco observada. É considerar que sempre haverá o que se buscar, querer, idealizar e conquistar.

A palavra redesenha o que foi aguardado, adquirido, querido. E sem reinvenção das mundividências, não há sujeito nem tão pouco homem. O homem que se entende como é porque se emoldurou pelos vieses das palavras, costurou suas ideias às não experimentadas, enraizou seus alicerces a jardins frondosos e solos férteis do discurso.

Enfim, prefiro dizer a me calar. Desejo a escrita como sinal de sobrevivência, como pedido de perdão, como agonia, como dor que necessita ser gritada, como poesia que precisa ser encantada. Amo escrever. É da escrita que sustento minha existência e bebo do antídoto, que me faz cada vez mais forte e humana. Obrigada, meus nobres, pela leitura. 

 

Simone Lacerda é professora.

cheirosensaiosepoesia.blogspot.com.br


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