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Livres Livros


O que seria de nós não fossem as pequenas alegrias, provocadas por fatos simples do cotidiano.

 

Num tour por Cachoeiro (sim, por Cachoeiro) vi uma cena simples, mas emocionante, apesar de toda a singeleza do momento.

 

Um menino tímido, de uns oito anos aparentes, chega discretamente, senta por alguns segundos no banco da praça, olha para o lado como a fazer o reconhecimento da área e se dirige ao espaço do Livres Livros logo ao lado.

 

A timidez parece ter ido embora quando ele escolhe, entre os livros, o que vai merecer sua atenção. O sol já mostra força, mas o vento ainda é agradável na Praça Jeronimo Monteiro.

 

Aquele menino poderia ter escolhido correr no amplo espaço, mas escolheu ler, e pode não parecer, mas isso é muita coisa. E Joabe, esse é o seu nome, parece conhecer bem aquele espaço de leitura. Nota-se a intimidade.

 

Fixei tanto o olhar no menino que a mãe, parece, sentiu-se na obrigação de me dar uma explicação. " Ele não sabe ler". Mas o encantamento com que olhava cada página prova que isso não tinha a menor importância.

 

Aquele livro vai, sim, fazer diferença na vida daquele menino de família aparentemente humilde. A mãe, pacientemente sentada ao seu lado no banco, dá ao menino o direito do deleite da leitura. Não apressa, não menospreza o prazer infantil que para ela talvez não tenha a menor importância.

 

Cúmplice e parceira de aventuras, que em sua simplicidade, proporciona ao menino tímido a possibilidade de viajar daquela praça a outros mundos. Silenciosa, mas suporte onde o menino confortavelmente se apoia para ler.

 

Não sei quanto tempo mais permaneceram ali. Mas sei que aquela cena será sempre lembrada. Singela e terna, movida a paixão pela leitura.  Volto no tempo e recordo das muitas vezes em que li para minhas filhas, e das outras tantas em que as presenteei com livros infantis.

 

Não sei até que ponto isso foi capaz de influenciar o futuro das duas, mas espero ter sido tão parceira quanto aquela mãe que espera, sem reclamar, enquanto o filho manuseia de forma tão especial e apaixonada as páginas daquele livro.

 

E, não pensem que ele me deu muita prosa. Percebi que estava interferindo e me afastei, passando apenas a observar, discretamente, e de todos os ângulos, aquele pequeno leitor que pode, sim, transformar o mundo.

 

Minha torcida e para que ele vença todas as dificuldades, supere os obstáculos que ainda o impedem de ler com fluência e tenha acesso ao melhor que a vida pode oferecer.

 

Que todos os caminhos o conduzam a alegria de frequentar a praça e ver graça num projeto que muitos não enxergam, não percebem e não sentem falta.  O próximo passo é dar a ele de presente alguns livros, para que possa levar para casa, sentir o cheirinho e dormir abraçado com eles, tendo os mais belos sonhos. Seja feliz Joabe.


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