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Limites


O psicopedagogo e escritor Içami Tiba, falecido no ano passado, dizia que comprometimento, disciplina e responsabilidade são elos primordiais que os pais devem oferecer aos filhos para que tenham uma boa educação.

Em uma das inúmeras entrevistas afirmou que o perdão constante dos erros não prepara os filhos para a vida. Dizia com muita convicção que o melhor que os pais podiam fazer era ensinar valores e impor limites.

Sem a bagagem intelectual e a autoridade dele e de outros estudiosos que se debruçam sobre a questão de princípios, valores e limites na educação, observo os estragos que a permissividade tem gerado na sociedade moderna.

Quando leio que jovens (quase sempre da classe média alta) espancam empregadas domésticas, prostitutas e gays, queimam moradores de rua, se deleitam em depredar o patrimônio público e importunam mulheres que ousam sair sozinhas para se divertir, penso que realmente que houve sérias falhas nesse processo.

Constato que a cordialidade, solidariedade e bons modos têm sido relegados a último plano, esquecidos mesmo em alguns casos, até por aqueles que teoricamente deveriam dar o exemplo (vide fatos recentes e lamentáveis no Congresso Nacional).

E se de maus exemplos e boas intenções o inferno (e o Brasil) estão cheios, cabe a nós fazer a diferença que queremos ver no mundo. Clichê? Certamente, mas também uma constatação de que não podemos continuar dizendo que inferno são os outros.

É tempo, mais do que nunca, de resgatar bons modos, gentileza e generosidade. E bons modos, nesse caso, não são atitudes de refinamento à mesa ou em reuniões sociais, para inglês ver. 

Falo da decisão de somar, de ir além, de cada um fazer a sua parte, mesmo que não haja platéia. Que a vida não seja uma vitrine (embora estejamos todos expostos) em que a propaganda é mais que enganosa. Que as atitudes não sejam apenas para consumo externo, sem nenhuma consistência ou pretensão de fazer acontecer.

Que sejam dados bons exemplos. Que não sejam valorizados os espertalhões, que tiram vantagem em tudo e não se envergonham de propagar isso aos quatro cantos. Que sejam resgatadas as lições que legaram ao mundo uma geração de bons cidadãos, e que essas virtudes não mais se percam nem sejam motivo de zombaria para os que as consideram ultrapassadas.

A Bíblia, em Provérbios 22:6 diz "Ensina a criança no Caminho em que deve andar, e mesmo quando for idoso não se desviará dele!". Isso sempre foi sério para mim. Sempre tive medo de falhar, de não dar conta da maternidade responsável, mas se tem uma coisa que nunca faltou, e sobre a qual nunca tive dúvidas, foi sobre a imposição de limites.

E se o céu é o limite para os sonhos, é preciso disciplina e muito amor, pois o caminho certamente não será fácil. Mas tudo vale a pena se a alma não é pequena, como diria Pessoa. Que sejamos grandes e firmes. E corajosos, porque para fazer diferente e diferença para o bem é preciso mesmo de muita ousadia e coragem.

 


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