Ser quem eu sou por vezes me deixa exausta. Toda essa intensidade, essa curiosidade e essa vontade de ter sempre o coração aos saltos triplos me cansam, porque a vida não é assim. Mas por mais que eu tente por os pés no chão, a utopia é maior que a realidade, e vivo dentro de meus devaneios uma espécie de universo paralelo. Newton Braga definiu bem o que sinto: "Eu queria ser um pouco mais igual a todo mundo./ Queria ser um sujeito simples,/ De ambições determinadas,/ De dores pouco profundas,/ De sentimentalismo menos doentio./ Queria viver sem essas complicações interiores,/ Sem o martírio do pensamento/ E da sensibilidade."

 

Não exagero no falar, exagero involuntariamente no sentir. Se utilizo a hipérbole, não estou superdimensionando, apenas falando a verdade, da forma como sinto. Se sinto fome, devoro; se rio, gargalho; se choro, desidrato; se amo, me entrego.

 

Metades e colunas do meio não me satisfazem. Morno, pra mim, só a água do banho e o vento do outono, e médio é só o tamanho do meu copo de refrigerante. Não me serve uma parte, se quero inteiro, e nem com céu parcialmente encoberto me contento: que venha logo a chuva, porque tenho urgência de sol.

 

Café precisa ser forte, cerveja precisa ser gelada, e palhaço precisa ser engraçado. São coisas que não cabem meio termo. Preto não pode parecer grafite, e acho inadmissível um branco amarelado. Desconfio de quem não tem um aperto de mão que seja firme, de quem não mostra os dentes quando sorri, de quem não pula quando está feliz ou de quem não ouve uma mesma música um monte de vezes, só porque gosta muito.

 

Enfim, sinto todas as coisas cinquenta e um tons a mais. Quero amar em excesso, quero que todos os outros beijos façam minha cabeça rodar como o primeiro, quero abraços apertados com a sensação de que estou sendo partida, quero dias inteiros e noites mais longas. E quando eu morrer, não quero que meu corpo seja degradado aos poucos pela terra, quero ser consumida rapidamente pelo fogo.