Impeachment - Jornal Fato
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Impeachment


 

Estão certos os que querem o impeachment da presidente? Dizendo de outra forma: indícios, sem provas conclusivas, autorizam discutir impeachment de autoridade pública? Digo logo: sim. Estarão certos os que assim agem, se ela sofrer impedimento. Estarão errados, se ela não sofrer. A legalidade, os tribunais decidem, mas inicio do processo cabe a qualquer do povo, exceto aos tribunais que decidem.

 

Não é certo querer cortar, na raiz, qualquer pedido de impeachment. Quem quer isso, prejulga. Inicio de processo - qualquer processo - não pode ser tolhido por alegação do interessado, de falta de provas; o julgamento do processo, sim, pode e deve. Uma coisa são passos iniciais, outra a sentença. E esta precisa daquela para condenar ou absolver.

Collor sofreu, em 1992, processo de impeachment. Mesmo com sua renúncia, o senado decidiu manter o processo. Provas apareceram depois, já que é estultice dizer que a simples Elba fosse prova capital; era indício. Depois foi "absolvido", mas Inês já era morta, estava moralmente condenado... e foi melhor para o Brasil.

Para coisas públicas, iniciativa da sociedade, deve ser assim: a autoridade que se vire e se defenda (é assim com o pária - leva pancada da autoridade e, depois, que se explique. Por qual motivo não merecem tratamento igual os do Poder, seja PT, PSDB, PMDB ou quem mais chegar?)

Leitor assíduo da Bíblia e de Padre Vieira, aprendi sobre profecias - e política também tem profetas. Deuteronômio (18, 22) diz: "se um profeta falar em nome de Deus, mas se o que disser não acontecer, então o que disse não foi mensagem de Deus". Caso contrário, é profeta. E Padre Vieira, jesuíta como o Papa Francisco: "Quando duvidares de alguém se é profeta, ou não, observareis esta regra: Se o que ele disser antes, suceder depois, tende-o por verdadeiro profeta: mas se o que ele disser não suceder, tende-o por profeta falso. Não pode haver sinal nem mais fácil, nem mais certo". Como as profecias, só no fim saberemos se o impeachment é correto.

(Escrevo para passar não só visão pessoal. Procuro explicar situações de vida às quais acho tenha alguma experiência. Uma são os meandros da política: na política, coexistem esperteza (grau mínimo), hipocrisia (grau médio) e intolerância (grau máximo). Sem julgamento moral, quem não tiver um desses graus não é político. Os graus sobem à medida que o político perde a ponta da corda, e isso se dá - e não sempre - com os pendurados no poder, que querem ficar nele a qualquer custo. Acontece hoje e sempre. Deixem em paz os profetas do impeachment até que venha o julgamento. Aguardem para ver, depois, se eles são ou não falsos profetas).

 

Maria, Minha Mãe

E aí eu me pergunto: por que vou me sentir intensamente mal no dia em que minha mãe foi ao encontro do Senhor? Claro que queria que ela vivesse entre nós, e para sempre; mas o corpo humano é finito, como que vai se gastando e cheguei à conclusão de que não é justo "segurá-la" entre nós, seus filhos, seus netos e bisnetos, seus parentes e seus amigos da Igreja Presbiteriana e de fora dela, ela começando a sofrer. Então, não posso me sentir mal, por ela ter ido fisicamente. Ao contrário, sinto-me agradecido por ela ter me aturado e me abençoado nos meus 67 anos de idade; a mim e a todos irmãos, inclusive Jairo Mansur, irmão "só" de pai, que, sem sê-lo pela biologia, é filho dela sim, como ela e ele me disseram mais de uma vez, pelo coração.

Quase aos 92 anos de idade, que completaria no próximo dia 22, minha mãe, Maria Evangelina Mansur, que pedira há pouco tempo fosse chamada de Maria Evangelina Araujo Mansur, acaba de falecer - 12/11/2015, cercada de tanta gente feliz por ela ter vivido; por ela, com simplicidade, ter compreendido e aconselhado quase sempre só com simples olhar de compreensão, olhar de alguém que veio de Muniz Freire, também minha terra. Olhar carinhoso, verdadeiro e abençoado; olhar de mãe.

Não sou dos que se utilizam do espaço público para falar dos meus e de mim, mas a dor que sinto enquanto estas linhas são completadas, junto com a foto que acabo de ver dela (e que está nesta página), delicadamente - como ela agia - me fazem fugir à regra e prestar-lhe, de público, não última homenagem - que não é - mas homenagem extraída do peito de um homem com dores pela partida da Mãe.

Que Deus a oriente pelos caminhos do Céu a encontrar seu marido, meu pai, Manoel Mansur. Está fazendo isso. Que ela sirva de exemplo para tantas mães com tantos filhos, netos e bisnetos para criar e orientar.

 

 

 

Vou Devolver...

Paulo Henrique Thiengo

Com a privatização da RFFSA, em 1996, na modalidade concessão, as estações consideradas operacionais passaram a ser usadas pela FCA, enquanto que as não operacionais simplesmente foram abandonadas. Como já era membro da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), que tinha convênio com a RFFSA, percorri todas as estações do sul do estado, relacionando o material de interesse histórico existente. Feita a solicitação, sua retirada foi autorizada. Acompanhado de um Policial Ferroviário, percorri novamente as estações. Muitos dos materiais simplesmente haviam sido roubados, como os existentes em Ipê-Açu (antes tivesse ficado com eles...).

Da mesma forma, muitos objetos em Cachoeiro e Campos desapareceram. Mesmo depois de recolhidos ao armazém da estação de Jaciguá (onde seria implantado um Centro Ferroviário de Cultura (CEFEC), em parceria da ABPF, RFFSA e Prefeitura de Vargem Alta, dois sinos foram roubados lá (funcionários da prefeitura também tinham a chave e devem ter sido vendidos a quilo)).
Recentemente, dois funcionários da Agência de Patrimônio da União fiscalizaram o material, um por um. Mesmo assim, a SEDE da ABPF, em São Paulo, tem recebido inúmeros ofícios, apontando a falta de material SOLICITADO e NÃO ENCONTRADO!
Minha última iniciativa será carta a ser distribuída ao longo das cidades cortadas pela ferrovia, de Itabapoana a Viana. Se não houver interesse na preservação da ferrovia, vou devolver todo o material para a ABPF (já avisei à diretoria e pedi prazo até final do ano). O material está comigo há 19 anos, esnobado pela prefeitura de Cachoeiro; é suficiente para montar um museu fantástico. São telégrafos, relógios de parede, carimbadores de passagem, bilheteiras, cofres, telefones, etc. Cansei!

(Paulo Henrique Thiengo é o ÚNICO defensor da memória ferroviária no Sul do Espírito Santo. Incrível que autoridades e todos se calem, não façam nada e deixem perder esse patrimônio. Entre outros patrimônios culturais, também estão com Thiengo, a impressora do Correio de Sul e quase toda a coleção do jornal, em papel).


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