Às vezes ouço afirmativas que me chocam - que não existe preconceito contra as mulheres; que a igualdade é uma realidade; que chegou a vez dos homens lutarem também por seus direitos, porque as mulheres já voaram alto demais e por ai vai. Participando com um grupo de casais num momento de lazer, quando uma das esposas convidou o marido para se retirarem, um dos participantes, brincando, lascou a frase definitiva: --Vai não fulano, deixe-a ir sozinha, lugar de mulher, barata e vassoura é em casa e de homem e cachorro é na rua. A frase caiu como um raio, todos riram bastante, o autor da mesma é muito engraçado e já residiu no nordeste, região onde a mulher mais sofre com a discriminação e de lá deve ter trazido a pérola de mau gosto.

 

Repito, todos riram, inclusive algumas mulheres presentes. Eu nunca acho graça dessas piadas, sinto o preconceito velado, insinuado nas entrelinhas. As pessoas  riem porque no fundo, no fundo mesmo, é o que pensam. Que lugar de mulher é esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque; e que o melhor movimento das mulheres ainda é o dos quadris na cama, E outras citações mais, que demonstram claramente a superioridade dos machos: - se me virem agarrado com mulher feia podem desapartar que é briga; que marido de mulher feia tem horror de feriado; que mulher é que nem lata, um chuta e outro cata. Essas frases em para-choques de caminhão estão desaparecendo, mas o sentido machista velado permanece no inconsciente popular. Há sempre um sorriso sarcástico, um ar de aquiescência quando são citadas.

 

E enquanto as mulheres não se posicionarem, mostrando valor através do trabalho, da capacidade intelectual, da luta pela igualdade, continuaremos percebendo as risadinhas irônicas e seremos taxadas de mal humoradas ou até mal amadas, porque não aceitamos entrar no jogo em que a objetivação da mulher é a moeda de troca. A nossa valorização depende do quanto nos reconhecemos merecedoras de respeito, e que fiquemos antenadas em relação a qualquer tipo de violência contra nós, praticada no dia a dia. Se duvidam que existe, basta uma olhada nas manchetes dos jornais. Há ainda muito caminho a percorrer, portanto permaneçamos na luta.