Igreja morta - Jornal Fato
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Igreja morta


Creio não ser novidade para ninguém que fui criada em igreja evangélica. Já falei disso algumas vezes. Frequento a mesma igreja há 40 anos. Por certo período permaneci lá a duras penas.

 

Presenciei práticas abomináveis, assédio moral, desonestidade de um líder com sério desvio de caráter e de conduta, que hoje anda pelas bandas do norte do Estado, certamente esperando o momento de dar o bote.

 

Então creio que posso falar, sem medo de errar, que fatos lamentáveis ocorrem na igreja, provocada por sede de poder e dinheiro. Com o apoio de uma liderança medíocre que faz o que o mestre mandar.

 

Haveria muito mais a dizer, mas deixemos o lixo embaixo do tapete, que "as coisas velhas já passaram, eis que tudo se fez novo". Então sigamos em frente, atentos ao fato de que a igreja não é feita de santos, mas de pecadores teoricamente arrependidos, que precisam vigiar e orar. E amar ao próximo.

 

Esses pecadores arrependidos precisam cuidar da própria vida, fazer diferença não apenas dentro da igreja, mas na comunidade em que vivem, no trabalho e na escola. Se livrar das pequenas corrupções, pagar suas contas, somar, e não subtrair ou dividir quando o assunto é a vida em sociedade.

 

Se cresci ouvindo sobre o livre arbítrio, ainda me choco quando nós, evangélicos, ou cristãos de modo geral, queremos impor as nossas crenças e dogmas aos outros. Mais que isso, quando vejo um Estado teoricamente laico usando um espaço político importante para impor seus modelos de família, bem como princípios e valores firmados em hipocrisia.

 

Para mim é muito simples. Quem é contra o aborto não deve abortar. Eu sofri um aborto espontâneo e a experiência foi horrível. Eu sou contra o aborto, mas isso só vale para a minha vida. Para mais ninguém. Cabe a cada mulher fazer suas escolhas (ou falta delas, em muitos casos).

 

Quem é contra o casamento gay deve casar-se à moda antiga. Homem e mulher, e serem felizes (ou não) para sempre. Isso é livre arbítrio. E os que escolheram a família não tradicional, serão apedrejadas pelos "santos" que ocupam os bancos das igrejas?

 

Estamos diante do caos por causa da intolerância, que se apresenta em todas as suas vertentes. Se lésbicas, gays, transexuais começarem a frequentar as nossos templos, de que forma serão recebidos? Mais do que isso, o nosso olhar será de condenação e repúdio, ou de acolhimento?

 

Se alguma irmã da igreja sofrer violência doméstica ou for estuprada, qual será a nossa postura? Vamos acusá-la de ser a culpada por todos os males e apedrejá-la? Ou vamos fazer de conta que o problema não existe, porque não podemos ser motivo de escandâlos?

 

Até quando teremos que conviver com os vendilhões do templo, que em nome de um evangelho fraudulento mentem, enganam e enriquecem? A igreja precisa cumprir a missão de incluir. Mas está se armando de pedras para apedrejar gays,prostitutas,  lésbicas e transexuais, promovendo e incentivando a discriminação.

 

Os templos e seus membros são santos demais para acolherem e conviverem com a dita escória da sociedade. É uma pena que o mandamento "ama ao próximo como a ti mesmo" esteja sendo esquecido. Então, quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra.


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