Gentilezas - Jornal Fato
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Gentilezas


Ouvindo, esta semana, a letra musicada, de Marisa Monte, Gentileza, juntamente com discursos populares que colho, como ouvinte das ruas,  peguei-me refletindo um pouco sobre os desdobramentos dessa palavra no nosso cenário social. Vejo uma carência das gentilezas, das palavras afetuosas e amenas em nossas diversas tarefas. Não há um comprometimento nem tão pouco um "acordo" entre as pessoas em trazerem doçura e brilho no olhar para o outro.

 

Sinto que as pessoas tornaram-se mecanizadas demais, como se estivessem carregando o peso de um mundo aflito, ausente e egoísta. Olhar para o próprio umbigo, parece-me, tornou-se a máxima das ações, não cabendo, nem dando tempo, de ver aquele semelhante a você.

 

Percebo nos discursos, nas relações, nos embates humanos uma casca construída, quase impossível de ser descascada. Apresenta-se enrijecida, manchada e, por vezes, denota um apodrecimento do fruto. Um obrigado, um sorriso, um cumprimento tornaram-se artigo de luxo, sem pretensões, ao que tudo indica, de ter um preço mais popular.

 

" A palavra no mundo ficou coberta de cinza" diz Marisa, mas me junto a ela nessa composição, pois, muitas vezes, percebo casas,palavras, pessoas acinzentadas demais, armazenando, em seus porões,  sentimentos que deveriam habitar os cômodos principais. Vejo, caminhando entre nós, um desamor e uma ausência de valores, mas não me vejam pessimista, pois não sou, só desejo a não morte da ternura, do carinho humano, da delicadeza entre nós.

 

O homem, graças aos dilemas, às frustrações e aos abandonos, secou-se bastante. Deixou de florir, dar frutos e sombras, deixou de semear poesias de afeto, de gentilezas. Nota-se que acrescentamos em nós quando vemos o outro como nossa parte, como indispensável para que consigamos ser felizes e tenhamos qualidade de vida, como tanto buscamos.

 

Segundo o educador e poeta Gabriel Chalita, só atingimos a felicidade, vencendo a utopia, quando nos completamos com a inteligência e o afeto do outro. Deixemos, então, a pequenez diária, o egoísmo enfurecido, o mau-humor que nos corrói, e aprendamos sorrir para aquele que se aproxima de nós.

 

Essa proximidade significa nossa igualdade, nossa semelhança nas alegrias, angústias, conquistas, impossibilidades, indignações. Somos o resultado de muitos outros e somos incompletos porque dependemos da outra alma para que sejamos homens melhores. A gentileza e o amor são palavras que libertam, " já dizia o profeta".

 

 


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