Garças do Itapemirim - Jornal Fato
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Garças do Itapemirim


Memórias olfativas e visuais sempre exerceram forte influência sobre mim. Cheiros, pessoas e lugares surgem, sem mais nem menos, em minhas lembranças, nos momentos mais inusitados.

 

Uma imagem que me fascina, ao mesmo tempo em que traz lembrança cômica da primeira infância, são as garças do Rio Itapemirim, moradoras ilustres de voo sincronizado, que salpicam de branco as árvores nas ilhotas ao longo de todo o leito.

 

Com o talento de José Mauro de Vasconcellos, atreveria-me a escrever o "Meu Pé de Garças do Rio Itapemirim". Acho incomparável a vista (quase uma visão) dos meus "pés de garças".

 

E são exatamente as belas garças que me fazem perceber que não é a primeira vez que uma árvore só existente na minha imaginação e atrai minha atenção. Bem pequena, ainda em Brasília, era levada pela minha vó a um benzedor para que ele curasse minha espinhela caída.

 

A chegada era um espetáculo à parte. Se não sou traída pela memória, a casa ficava num bosque cercado de lindos pinheiros alinhados simetricamente. A floresta da Chapeuzinho Vermelho sem o perigo do lobo, diria.

 

Como alinhados eram também os longos canteiros de hortaliças e legumes, que tinham próximo aos pés ovos espetados em paus. "Que lindos pés de ovos", imaginava.

 

Só percebi que definitivamente tinha alguma coisa errada com os meus pés de ovos quando meu pai gargalhou quando contei da minha descoberta. Que droga, pensava. Qual o problema dos meus pés de ovos, tão perfeitos e imponentes, se destacando em todo o plantio?

 

Descobri que a plantação era fruto da minha imaginação. Ovos não nascem em canteiros, disseram, para meu desgosto e desilusão. Desencantada, custei a admitir que me enganara.  Ao mesmo tempo em que foi um dos choques que me trouxeram à realidade, pelo menos o meu "pé de ovos" ensinou-me uma lição preciosa: nem tudo é o que parece.

 

O que às vezes é uma pena. Porque gostaria muito de criar um remanso tranquilo com águas do meu Itapemirim no fundo do quintal e plantar um belíssimo pé de garças.

 


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