Feminicídio Zero - Jornal Fato
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Feminicídio Zero


O novo ano que se aproxima vem cheio das melhores expectativas e esperanças, já que 2016 não é um ano para recordar. Os tempos são maus. Que venham novos desafios e novas metas. Uma delas, a superação definitiva dos casos de violência contra a mulher.


Nada da doce ilusão de que o machismo tenha ficado no passado. Não ficou. Continua aí firme e forte. Meninos e meninas ainda são criados de forma diferente. Os meninos podem tudo. As que não são belas, recatadas e do lar ainda são discriminadas, e a elas é atribuída a culpa por todo o desrespeito que venham a sofrer.

 

As mulheres continuam cumprindo triplo papel. Somos mães, trabalhadoras e donas de casa, e nos saímos muito bem, diga-se de passagem, a duras penas, mas ainda recebemos salários inferiores para desempenhar as mesmas funções dos homens. É urgente esperar que todos assumam sua parte na criação dos filhos, sem aquele papo de que ajudam a mulher em casa, como se unicamente a ela coubesse todas as responsabilidades.

 

Estamos sob a imposição de rigoroso padrão estético. Não atendê-lo causa sofrimento e desconforto, como se as indesejáveis celulites e as inevitáveis rugas nos desqualificassem para a vida que, indiferente a tamanha futilidade, segue seu curso, apesar de valores tão volúveis.

 

Violência contra a mulher tem que ser tratada na primeira infância, com homens e mulheres que estão sendo formados agora. Não abordar essa questão em sala de aula é de uma parcialidade estúpida. A violência não tem cor partidária. Tem a cor escarlate do sangue que jorra de corpos femininos rasgados por facas e armas de fogo.

 

Os que querem a exclusão do debate desse tema das salas de aula devem perguntar às mais de 63 mil mulheres que foram agredidas em 2015, o que acham de tentarem jogar essa pauta para debaixo do tapete. As sete mulheres que são agredidas por minuto no Brasil certamente têm um recado para esses especialistas em educação que as ignoram e condenam até à morte.

 

Nos casos de violência contra a mulher todos se indignam e dizem querer justiça. Então não dá para aceitar pacificamente uma atitude tão arbitrária que impede a discussão do feminismo (que busca igualdade de direitos, e não superioridade sobre os homens) entre crianças, que geralmente são despidas de preconceitos e poderiam zerar, num futuro próximo, os casos de feminicídio. É preciso acabar com essa sociedade patriarcal, racista e machista.

 

Não discutir o feminismo com nossas crianças é continuar ouvindo que 85% dos casos de violência ainda ocorrem dentro de casa, em 90% dos casos na frente dos filhos, praticados por pessoas do ciclo próximo de relacionamento.

 

Então o machismo ainda submete as mulheres à violência dentro e fora de casa. Os estupros se repetem, sempre com a acusação de que foram culpadas pela violência que sofreram. A lei Maria da Penha foi um avanço, mas ainda é preciso mais. É urgente que sejamos respeitadas e reconhecidas pela força que temos.

 

Ajudamos a construir as riquezas desse país. Escrevemos cada capítulo da história política, social e econômica do Brasil, com muito suor e trabalho, e em alguns casos, com lágrimas e muito sangue. Meu desejo para 2017 é que não haja espaço para questões de gênero que ainda humilham e matam tantas mulheres. 

 

Ou a questão do combate à violência contra a mulher é tratada como prioridade máxima, ou vamos continuar fazendo parte de estatísticas e mapas de violência. Veremos mulheres em zonas de guerra se suicidando para não serem estupradas. Feliz Ano Novo, sem violência e com respeito às mulheres. Afinal toda violência contra a mulher é crime doloso. Há sempre a intenção de matar.


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