FATOS & LENDAS - Jornal Fato
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FATOS & LENDAS


Hannah Arendt, importante pensadora alemã, quando tratou das lendas, que são, aproximadamente, o mesmo que o termo "versão", no sentido que eu o abordo, escreveu belíssima página. É a melhor explicação de como o mito (ou a lenda, ou a versão), se transforma em verdade, e de como a "mentira", às vezes, não é mentira, pois é algo além da verdade. A página de Hannah Arendt é a seguinte:

 

"As lendas sempre influenciaram fortemente a feitura da história. O homem, que não tem o poder de modificar o passado, que herda as ações alheias sem consulta prévia, e sente o peso da responsabilidade resultante de uma série infinita de acasos e não de atos conscientes, exige uma explicação e uma interpretação do passado, onde parece esconder-se a misteriosa chave do seu destino futuro. As lendas foram o alicerce espiritual dos povos antigos, uma promessa de guia seguro para a vastidão do amanhã. Sem jamais relatar fielmente os fatos, mas expressando sempre o seu verdadeiro significado, oferecem uma verdade que transcende à realidade, uma lembrança além da memória.

 

As explicações lendárias da história sempre serviram como tardias correções de fatos e eventos reais, necessárias precisamente porque a própria história iria responsabilizar o homem por atos que ele não havia cometido e por consequências que não tinha previsto. A veracidade das lendas antigas - aquilo que lhes empresta uma fascinante atualidade muitos séculos após a destruição das cidades, impérios e povos a que serviram - estava na forma a que eram reduzidos os fatos passados, para ajustá-los à condição humana em geral e a determinadas aspirações políticas em particular. Somente através das narrativas francamente inventadas, o homem consentia em assumir a responsabilidade pelos acontecimentos e em considerar os eventos passados como o seu passado. As lendas davam-lhe o domínio sobre o que não fora obra sua, e a capacidade de lidar com o que não podia desfazer. Neste sentido, as lendas não são apenas as primeiras lembranças da humanidade, mas também o verdadeiro começo da história humana."

 

Quando, no entanto, Arendt falou sobre a verdade imposta, disse: "a persuasão impositiva e a violência podem destruir a verdade, mas jamais poderão substituí-la".

 

Não parece, pois, devamos temer o poder da versão, mesmo que ela supere os fatos, pois será ela, se não for persuasão impositiva e violenta (instrumentos do poder e do status quo), o único poder que os que não detêm poder possuem.

 

E já que estou indo longe em citações, não custa relembrar nosso amigo Sérgio Garschagen, que lá pelo ano de 1970, lançou, na FAFI, o jornal nº 1 e único, o "Castigatridendo mores" (Rindo, castiga os costumes) ou, numa tradução mais livre que me ensinaram, "Rindo, dizer a verdade".

 

Pois é essa a função da versão, da lenda, e do mito. Permitir àquele que não tem poder ou posse, rir do ridículo do que tem, enquanto a cova rasa não se incumbe de igualar todos, na eternidade que é a antessala do juízo final. (texto escrito há 20 anos).

 

Alcy Ribeiro da Costa

 

Na quarta-feira, 06/setembro, a Loja Maçônica Fraternidade e Luz, de Cachoeiro, comemorou 119 de bons serviços prestados e, como sempre fez, faz e fará, ofereceu jantar de confraternização após a sessão festiva.

 

Loja cheia de irmãos, amigos, familiares, até crianças.

 

Dentre todos os irmãos, reverência especial se fez, e eu também faço, a cidadão que, no dia 20 próximo, comemorará 70 anos de iniciação na Maçonaria - isso mesmo, 70 anos; mais tempo de Maçonaria do que eu de idade. Iniciado em Guaçui, 20 de setembro de 1947, transferiu-se para Cachoeiro em 05 de maio de 1949 e, desde lá, até aqui, sempre se fez presente, mesmo morando em Vitória.

 

Membro honorário de quase todas as Maçonarias do Espírito Santo, fundador de algumas delas, dentre tantas obras, criou - pioneiro no Brasil - o primeiro Departamento Social Feminino da Maçonaria, que gerou muitos frutos pelo País.

 

Aos 88 anos de idade, lúcido, observador, homem transparente que olha nos olhos daquele com quem conversa, raciocínio perfeito (lembrou-se de antiga "falha" minha), ele fez discurso maravilhoso para os presentes - e tudo isso e tudo mais que eu disser sobre ele, não é nada comparável com o que ele realmente é, além de ser alma de simplicidade sem par.

 

Tenho-o na conta de meus mestres maiorais.

 

 

 


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