Eu e o Natal - Jornal Fato
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Eu e o Natal


As festas de final de ano estão chegando e o trânsito está um caos. No calor infernal da cidade a chuva nos pega de surpresa. As lojas estão lotadas e ninguém tem dinheiro. As dívidas ficarão para o ano que vem. As famílias irão se reunir em torno de uma mesa com uma quantidade imensa de comida que provavelmente nem será totalmente ingerida. Enquanto a bebida será consumida em quantidades astronômicas, tirando de alguns verdades que não tinham necessidade de ser ditas. Os que não bebem reclamarão aos sussurros dos que passam as festas de copo na mão. As reuniões forçam abraços que não gostariam de ser dados e provocam tristeza pela ausência dos que já se foram. Começou a minha irritação. Sou uma pessoa que declaradamente não gosta do Natal. Embora me achasse a diferentona por essa visão pessimista, descobri há algum tempo que não estou sozinha nessa.

 

Natal, a festa religiosa cristã que celebra o nascimento de Jesus Cristo, vem perdendo o real sentido desde que foi criado, há mais de mil e seiscentos anos. Pessoas de todos os credos e ainda os não crédulos entram na onda de consumo como se não houvesse outro natal ano que vem, nem impostos, nem material escolar, nem férias, nem boletos, nem a reforma do encanamento da casa que também anda precisando de uma pintura. Uma época em que o afeto ao outro precisa ser provado mais pelo valor do presente do que pelo significado da presença.

 

Mas não sou o Grinch, monstro que pretende destruir o Natal. Admiro o espírito natalino daqueles que enfeitam e iluminam suas casas e se enchem de bons sentimentos para celebrar. O que seria do mundo se todos pensassem como eu? Nada bom. Ainda bem que a maioria do povo brasileiro é otimista e estamos aí vivendo as dores e as delícias que só o final de ano é capaz de proporcionar.

 

O meu desejo é que todos, independente da sua fé ou da ausência dela, tirem algum momento de reflexão no meio de tanto barulho. Façam uma prece para Deus, Maomé, Buda, Moisés, São Jorge ou para qualquer que seja a divindade que acreditem, ou simplesmente mentalizem a luz, para os que não acreditam em nada. É preciso paz para esse momento de ciclos que se encerram e para outros que se iniciam.

 

É o que eu quero e o que busco. A paz de ter feito tudo o que pude. A certeza de que continuarei aprendendo e procurando ser uma pessoa melhor. E uma noite onde a tulipa dele e a minha taça serão o suficiente para um brinde que durará a vida inteira. Não precisamos que seja Natal para que o mais importante seja o amor.


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