Estado de Exceção - Jornal Fato
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Estado de Exceção


O Brasil vive, sem sombra de dúvidas, Estado de exceção que aterroriza os que ousam se levantar contra o que está posto em todas as esferas de poder. "Aos inimigos os rigores da lei" tem prevalecido, com constante pisoteamento da Constituição Federal.

 

O Estado de Direito foi substituído pela humilhação e execração pública de personagens que são culpados até prova em contrário. Esse mesmo Estado de Direito só vale e está reservado aos que integram o ciclo de poder político, econômico e jurídico do país.

 

Escrevo pensando no suicídio do Reitor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, da Universidade Federal de Santa Catarina, que construiu sua vida acadêmica ao longo de décadas, e foi preso por fatos ocorridos 10 anos antes de sua posse. Ele estaria obstruindo investigação sobre desvio de R$ 80 milhões ocorrido entre 2006 e 2017.

 

Cancellier já tinha escrito sobre sua insatisfação no artigo "Reitor Exilado", em que disse textualmente: "Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia.  A humilhação e o vexame a que fomos submetidos - eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - há uma semana não tem precedentes na história da instituição."

 

E continua: "No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira".

 

E disse mais: "...conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior."

 

São tempos realmente sombrios, em que estamos expostos a processos equivocados, baseados em informações seletivas que atropelam, e até ignoram, o devido processo legal e o direito ao contraditório e à ampla defesa. 

 

Se há provas fartas e amplamente documentadas contra políticos brasileiros, figurões no cenário nacional, abafa-se o caso. A mala cheia de dinheiro, fartamente registrada por imagens, não importa. Os pares se julgam e se absolvem. É assim que funciona, sem pudores, a política de compadrio no país.

 

A vontade política reina, tanto para absolver, quanto para condenar. Ao léu do que preconizam as leis. Então, com vontade política, expõem e destroem vidas "ante um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado ".

 

No bolso do reitor que se suicidou, um bilhete: "A minha morte foi decretada quando fui banido da universidade!!!" Mas a pergunta que não quer calar: até quando seremos obrigados a conviver com o Estado de Exceção, em que a tragédia mais visível é o caráter, ou a total ausência dele, nos homens públicos que dizem nos representar?

 

Somos condenados à morte diariamente quando nos esbofeteiam com imagens de um dos políticos mais articulados e poderosos do país, que já foi citado em outros casos de corrupção, flagrado dizendo que o mensageiro que buscará a propina de R$ 2 milhões deve ser "alguém que possamos matar". Até quando?


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