Escuridão - Jornal Fato
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Escuridão


A menina estava sentada observando o sol se pôr e esperando a noite chegar.


Ela chegou tão rapidamente que em poucos minutos só havia escuridão. Escuridão essa que a atormentava. Era como se ninguém a visse, se estivesse invisível ao olhar do outro, invisível de sensações, pensamentos, realmente um ser inabitável. E isso a atormentada a cada respiração dada, como se fosse lhe dado um soco em todos os instantes.  Não ser notada poderia ser fatal para uma moça que só queria um olhar.


Mas ela mesma não conseguia se enxergar. Sua expressão não estava afável. Deixou as luzes, do quarto, apagadas para não ver sua própria imagem refletida no espelho. Era de dar medo!

 

 Naquele dia tudo seria em vão. Estava só. Queria companhia de alguém que não fosse ela mesma. Só porque, às vezes, o que simplesmente basta, é um olhar e atenção do outro, para, então, em menos de um segundo ser compreendida, deixando todas aquelas apreensões de lado e somente pegar a mochila e ir e para aonde os ventos desejarem.

 

Um sonho que para ela poderia ser facilmente realizado, ou não. O seu querer não estava totalmente a dispor de suas escolhas e decisões. Estava invisível a olho nu. Sua presença era imperceptível. 


Em seus devaneios intercalados entre pensamentos de angústia e felicidade, a menina saudou um vaga-lume que pousara em algum lugar do seu quarto, mas como estava escuro demais não sabia identificar o que seria.

 

Ela sorriu para ele! E de repente caiu em prantos!

 

Pensou estar louca.

 

- Talvez devo estar mesmo. Mas quem não tem um pouquinho de loucura nessa vida, deve ser muito careta. Olhe para mim, estou a conversar com um inseto que ao menos me entenderá e nem irá me responder. Por isso, existem as medidas certas. Se oferecermos em demasiado, enjoa. Já se lhe é dado em falta, deixa a desejar. Veja o uso do sal e do açúcar, são dois extremos que podem sim ser usados juntos, basta seguir as porções corretas. Será isso que falta em mim? Mas o que seria o certo? O que deveria seguir realmente? Eu devo seguir algo?
A menina referia-se para o vaga-lume, como se ele a compreendesse. Buscava respostas para suas perguntas, porém não as encontrou. Não demorou muito, e ele voou. Levou embora consigo todas as palavras que a menina jogou.

 

Quando cansou da solidão, notou que a escuridão que a percorria não era do ambiente, porque o sol brilhava lá fora, e sim, a falta de luz dentro dela.


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