Entre ventos e danos - Jornal Fato
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Entre ventos e danos


Nada de suavidades, tecido fino, veludo enrolado no corpo. Há agulhas, pregos e inchaços na alma. Sem covardias com o desconhecido e o dentro de si, demais para cicatrizar e constantemente em erupção. A explosão fazia-se necessária.

 

Não considero conversas atravessadas como bobagens. Aliás, são delas que frestas se preenchem e entornam o caldo tantas vezes indesejado. Na falta de palavra é que se constituem os universos, tão sombreados por regras e manuais.

 

Sento na varanda, naquelas tardes que ninguém espera, de vento pomposo e folhas ao chão. Mesmo que não brote alento, seduzo-me com a natureza e seus hemisférios desconhecidos. Considero bastante olhar  mesmo que me encontre com o nada , mesmo que o mundo  siga  o curso e, ali, intacta, converta-me  em dilemas.

 

Fico em vigília, em uma espera desmarcada, sem pressas para que, em minutos ou séculos, tudo -ou quase- resolva-se. Meus devaneios persistem sublimados. Permanecem. Estou calada embora em ebulição permaneça meu espírito. A palavra, nem sempre, me dá moradia, institui ordem ou reforça os mesmos espaços. Seguir é ordem, mesmo que hiatos alimentem os pensamentos tão fugidios.

 

Nada de responder mensagens, e-mails, ataques pessoais, frasezinhas de carinho, acenos gratuitos. Nesses dias, recuso o barulho, somente, agora, a ausência das intenções.  Continuo desejando o mundo inteiro em um breve segundo e segrego, por alguns momentos (perco-me neste tempo), o melhor dos dias. É danoso persistir, querer, isso inflama a humanidade inteira.

 

Nada de comoção ou abandono. Nada de plateia e bilheteria. Quero sobreviver, mesmo que os dias sejam alternados, mesmo que a felicidade não ganhe rotina e dias pares. É preciso respirar, ganhar oxigênio, destampar o que foi lançado no poço.

 

Não quero cenários de domingos, nem semear o improvável. Sonho por dentro certa alegria, uma paz na alma que costuma não se aproximar, uma esperança que não doa. Não quero padrões, todavia, gosto de sentir o que tanta gente deseja. Sou mais uma que desenha a felicidade, sem equações (como todos vocês).

 


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