Empecilhos - Jornal Fato
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Empecilhos


Quando sinto que em mim brota um sentimento de inadequação, uma dor que não sei de onde nem de quando vem, paro para me questionar. Sou uma pessoa difícil? Nem tanto, é facinho, facinho lidar comigo, normalmente sustento um bom humor constante. Só que, às vezes, não consigo manter essa linha de conduta. Os desconfortos psicológicas não são simples de detectar. Sei designar que me incomoda fisicamente, tal como etiqueta de roupa que espeta, sapato apertado, comida quente, sabor ácido, frio, bafo de álcool, gente me agarrando e qualquer tipo de intimidade sem o meu devido consentimento. O que adoro? Carinho, sexo com quem amo, acolhimento, presentes, flores, frutas, banhos de mar, caminhadas, dança, leitura, ato de escrever, música, convivência com filhos, netos e amigos. Tento respeitar os outros, não ser invasiva, principalmente nos grupos e redes sociais, se não tenho uma palavra de alento ou estímulo, prefiro me calar. Em geral entrego-me inteiramente às pessoas e aos ambientes com o qual convivo. Se não me sinto acolhida prefiro cair fora.

 

E por que deste texto? O escrevi mentalmente no pronto socorro do hospital, onde busquei ajuda durante uma crise alérgica. O médico prescreveu um medicamento no soro, e ele foi ministrado em 30 minutos e fiquei com o scalp enfiado na mão por mais uma hora, isso às três da manhã. Cada vez que a enfermeira surgia eu pedia para me liberar, e ela comunicava que o médico precisava me ver. E ele andava de um lado para outro e nunca chegava. Só fui liberada quando falei com maior firmeza. E concluí: Detesto enrolo e falta de objetividade. Naquela madrugada organizei mentalmente o trabalho daquele plantão hospitalar e concluí como as coisas seriam mais simples se todos fossem objetivos. Por conta da impaciência eu acordo a cada manhã pedindo a Deus que me conceda a misericórdia, a solidariedade e o perdão. E assim vou tocando a vida. Não sou melhor nem pior, apenas humana.  Aprecio quem se joga na vida e no amor. A idade nos confere uma sabedoria que vai além de olhares, palavras e atitudes. E nos permite sermos quem somos, de fato e em plenitude. 


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