Dos políticos e dos concursados - Jornal Fato
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Dos políticos e dos concursados


Eu, de vez em quando, falo que as pessoas achincalham muito a política. Mas a profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir para a rua encarar o povo, e pedir voto. O concursado não. Se forma na universidade, faz um concurso e está com emprego garantido o resto da vida. O político não. Ele é chamado de ladrão, é chamado de filho da mãe, é chamado de filho do pai, é chamado de tudo, mas ele tá lá, encarando, pedindo outra vez o seu emprego (Luís Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil).

 

Sei que poderei ser indelicado - e talvez até mesmo desagradável e prolixo - mas, por favor, permitam que eu me manifeste sobre as palavras de nosso ex-presidente.

 

Iniciemos pela frase ...a profissão mais honesta é a do político. Ora, para começo de conversa político não é profissão; político - ou agente político - é todo aquele que detém um cargo para o qual foi eleito para um mandato transitório, temporário. Podemos citar como exemplos os chefes do Poder Executivo e os membros do Poder Legislativo; também se enquadram aí os Ministros de Estado e os Secretários estaduais e municipais. Portanto, todo político sabe - ou pelo menos espera-se que ele saiba - que seu cargo é passageiro e não vitalício, e sua permanência nele está sujeita à análise periódica do eleitor, a qual se transforma em voto a cada quatro anos. Além disso, o agente político - que é uma categoria de agente público - deve cuidar da res publica, da coisa pública, tratando assim dos interesses coletivos, e não dos seus interesses pessoais, particulares. Continuando, pode-se conceituar profissão como sendo a atividade pessoal desempenhada de forma estável e honrada, a serviço dos outros e em benefício próprio. Assim sendo, o profissional exerce sua atividade para os outros a fim de garantir sua própria subsistência, mantendo-se íntegro, honesto, durante seu labor.

 

Já a palavra honestidade é de origem latina - honos - possuindo os significados de honra e dignidade. É um princípio básico do ser humano, faz com que ele aja com sinceridade consigo mesmo e com os outros; logo quem é honesto não mente, não frauda e não engana.

 

Próxima frase: ...por mais ladrão que ele seja...encarar o povo, e pedir voto. Aqui Lula afirma nas entrelinhas que o político é ladrão; pode ser mais, ou menos ladrão - como se isso fosse possível - mas continua sendo ladrão. Ou seja, depreende-se de suas palavras que ser ladrão faz parte do âmago do político, é inerente a ele e à sua atividade. Logo, se fôssemos seguir o raciocínio dilmesco do ex-presidente, poderíamos também concluir o seguinte: se político é uma profissão e todo político é ladrão, ladrão é uma profissão. Por outro lado, sabe-se que quem é honesto não engana, não frauda e não mente; então não se pode nem classificar esse tipo de raciocínio como sofisma, posto que não há um argumento verdadeiro sequer nele. Nada mais é que um amontoado de contradições e mentiras.

 

Ele finaliza o raciocínio torto afirmando que o concursado possui emprego vitalício e que o político tem que ir às ruas, encarar o povo e, apesar de xingado, pedir novamente seu emprego. Pois bem, o senhor Lula esquece que o concursado para se formar na universidade antes de mais nada precisa estudar para o vestibular, para o ENEM ou para ambos - e passar. Após ingressar na universidade são mais cinco anos de estudos para em seguida enfrentar os concursos públicos, até que seja aprovado - preferencialmente com uma boa classificação - e nomeado antes que o prazo do concurso expire. Esses concursos têm a finalidade de, em tese, selecionar os melhores candidatos que ocuparão cargos nos serviços públicos das três esferas da Federação, União, Estados e Municípios - e também o Distrito Federal. Dependem, assim, única e exclusivamente do esforço físico e intelectual próprio, do mérito individual de cada um deles; não dependem de favores ou de conluios, conchavos ou alianças partidárias. Além disso, se a estabilidade existe, existe por força de lei - e é adquirida apenas após três anos de estágio probatório. Essa mesma lei também prevê sanções, dentre elas a exoneração - demissão -por meio de processo administrativo para o servidor público que cometer irregularidades.

 

Ora, os lulopartidários dirão que estou considerando apenas um fragmento do discurso do ex-presidente, que portanto está fora do contexto ou mesmo que o que ele quis dizer não era bem isso. Mas foi o que ele disse e se aplica a todos os servidores públicos, portanto - inclusive aos que votaram nele e em sua sucessora.

 

Assim, senhor ex-presidente Lula, as pessoas não achincalham muito a política; as pessoas criticam - e com bastante propriedade - os políticos que, como o senhor e diversos outros, inclusive acólitos e partidários seus, achincalham a política.

 

 


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