Desordem  - Jornal Fato
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Desordem 


Encontrei o texto "Síndrome de desordem pós 40" nas redes sociais, compartilhado por minha amiga Mara Tosato, e a identificação foi imediata. Ele fala das muitas tarefas que vamos iniciando no decorrer do dia e que, emendadas em outras tantas, ficam difíceis de ser concluídas. No final, o que resta é a sensação de cansaço e muito ainda por fazer. Energia desperdiçada que poderia ter sido investida em poucas tarefas prontas com sucesso, e não em várias apenas começadas. 

 

Antes de ler o texto eu achava que essa minha confusão estaria ligada ao meu mapa astral - geminiana multitarefas. Ou ao distúrbio de déficit de atenção que irremediavelmente me acompanha desde criança. Mas não. Segundo o texto trata-se de um "mal da idade". Mesmo não sendo uma afirmação com embasamentos científico, pude perceber que tem nisso uma grande verdade. Foi só dividir minhas experiências com amigas da mesma faixa etária e pronto. A maioria esmagadora passa o dia se perdendo no meio de um universo de coisas que precisam ser feitas. E, na ânsia de sermos super e não deixarmos nada para trás, transformamos em caos o que era apenas uma bagunça. 

 

Vou exemplificar para os organizados e disciplinados que ainda não entenderam. Acordo cedo no sábado para cuidar dos afazeres domésticos renegados durante a semana pela mais absoluta falta de tempo. Vou direto para a cozinha preparar uma xícara de café, mas, vendo que tem roupa no varal, prefiro recolher. No percurso, noto outras roupas que precisam ser lavadas e acho que colocar logo na máquina vai me poupar tempo. Enquanto coloco as roupas na máquina observo as garrafas de água vazias e fico apavorada com a possibilidade de não ter água gelada. Quando vou encher, o filtro está seco, e vou cuidar disso. Enquanto abasteço o filtro penso nas plantas na varanda que estão desidratadas há alguns dias e me dirijo pra lá. O sofá tem roupas que precisam ir para a máquina junto com as outras, e deixo a água das plantas em cima da mesa, voltando para a área de serviço. Sinto cheiro do café da vizinha e noto que ainda não cumpri minha primeira tarefa. Abro o fogão e a louça que está lavada já secou. Vou guardar para desocupar espaço na pia, me atentando em seguida que ainda não liguei a lavadora. Cansou? Pois é... e eu ainda nem comecei. No meio disso tudo ainda vou limpar, lavar, cozinhar, passar, atender o telefone, terminar a série, fazer um bolo, ler o jornal, tomar uma cerveja, levar o carro para alinhar e dar um beijo na minha mãe. À noite preciso estar descansada, linda e disposta. E nem estou falando de 24 horas, porque só tenho 12, afinal. 

 

E assim são os meus dias. Se não realizo nada? Realizo sim. E muito. O que falta em organização sobra em boa vontade e, modéstia à parte, competência. O baile segue, eu com minhas loucuras e cada um com as suas. Porque, de perto, ninguém é normal. E não sou eu que ficaria fora do contexto. Vou agora ali fingir que tenho um tempo livre e balançar na rede que precisa ser pendurada. 

 


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