Desequilíbrio - Jornal Fato
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Desequilíbrio


Você diz que agora vai me mostrar com quantos paus se faz uma canoa, mas eu te respondo, querido, que faço uma canoa com o que tiver em mãos. Se ela flutuar e tiver um lugar para que você venha comigo, pode ser feita de paus, palha ou folha de bananeira. Mostre-me outra coisa que não sua receita exata de canoas. Não seja tão chato. Sente-se aqui e mostre-me que esses grandes olhos me desejam agora tanto quanto na primeira vez. Mostre-me seu sorriso e jure por qualquer coisa que eu sou o principal motivo dele, ainda que isso seja apenas uma meia verdade. Coloque uma música e mostre-me que você ainda conhece aqueles passos de dança que me embalaram no final de semana em que fugimos desse lugar cinza e tão cheio de gente careta e covarde.

 

Não faça tantos planos e nem se aborreça com a minha total incapacidade de planejar com tantos detalhes seja lá o que for. Amanhã não sabemos se virá, afinal. Solte esses ombros, fume um cigarro e preste um pouco de atenção em nada. Ao menos finja não saber que dia é hoje, se chove ou se faz sol. Ignore esse telefone. Jogue pela janela porque aos pedaços ele vai dar um pouco dessa paz que tanto precisamos. Falte o trabalho, o jantar em família, a consulta médica e a aula de inglês. Desequilibre sua agenda e liberte-se de toda essa rigidez.

 

Sirva-me de mais uma dose e depois sirva-se de mim. O jantar está pronto.


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