Antes de você a arte de viver consistia em respirar, dormir, levantar e trabalhar. Mais do que isso apenas um prato com um ou outro alimento e um trago de uma bebida qualquer. De vez em quando alguma droga lícita ou não que me desse sono, alegria ou tesão. Qualquer uma que tirasse um pouco desse angustia acumulada no peito cheio de rotina, tédio e contas. Mas aí você chegou e os poucos verbos que eu praticava viraram uma lista enorme de afazeres infindáveis em torno do único centro do mundo que fui capaz de encontrar nos meu muito mais de trinta e poucos anos. Passei a não lembrar como era o ontem porque nele você não habitava. Valia o hoje afogada em seus beijos e os planos para que amanhã eu não me desvencilhasse deles nunca mais nessa vida.

 

Mas agora que você está aqui e já tem no seu armário o meu moletom preferido e no banheiro uma coleção de xampus que eu vim trazendo no decorrer dos meses fico pensando se você se sente do lado certo dessa história que começou quando você pediu que eu ficasse calma e eu me irritei ainda mais tentando disfarçar o frio na barriga que sua presença me causava. E o lado certo é o meu, meu bem. E meu lado é o nosso. Você prefere mesmo que eu esteja realizada ou prefere uma derrotada para chamar de sua? Feliz e cercada de amigos ou sozinha jogada aos seus pés implorando por um pouco de domingo à tarde?  Solicitada ou esquecida? Doce ou amargurada? Diga, mas diga a verdade. Não finja que me quer bem quando minha dança fora de hora te incomoda. Não diga que está tudo certo quando minhas festas te perturbam o sono.

 

Queira-me bem, e o bem será nosso. Fique do meu lado, que é nosso lado. Não seja tão egoísta e comemore comigo essa fase de ser plena, lua cheia e orquídea de primavera. Venha que eu te mostro que felicidade é coisa simples e que a dois é mais fácil que sozinho. Segure a porta para eu entrar que eu guardo sua cadeira. Pegue um copo d'água que eu preparo o café. Enxugue a louça que eu lavei. Cante e dance comigo mesmo que eu goste de samba e você de rock. Vamos misturar os ritmos porque é assim que as histórias são feitas.

 

De que lado você está? Responda sem palavras. Segure forte a minha mão ou ignore a minha pergunta olhando a tela do celular. Convide-me para dormir no seu abraço ou tranque a porta do quarto sem me deixar entrar. Ponha uma música e me espere na penumbra ou quebre meus discos todos. Há respostas em cada um dos seus silêncios. Eu só preciso que eles gritem.