Cruzada de pernas - Jornal Fato
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Cruzada de pernas


Nada de Sharon Stone e a sua famosa cruzada de pernas, ainda lembrada quase 30 anos após o lançamento do filme Instinto Selvagem, de grandes estrelas.

 

Nada tão sensual e arrebatador. Nenhuma intenção de repetir a ousadia, demais para mim em qualquer tempo. Mas ando me alegrando muito em poder cruzar as pernas, coisa eu não fazia há muitos anos.

 

O que parece despretensioso e simples é o máximo para os gordos, que perdem aos poucos, e quase sem perceber, essa possibilidade. Obesa mórbida, sonhava em voltar a cruzar as pernas. E num belo dia, numa reunião agitada de trabalho, interrompo a pauta quase aos gritos, numa alegria desenfreada e incompreensível.

 

"Gente, não acredito. Eu cruzei as pernas". Minha amiga se surpreende com a comemoração inusitada e ri muito. Foi necessário explicar que a cruzada de pernas era uma grande conquista para mim, que não fazia isso há muitos anos e blá, blá, blá.

 

Volto o meu pensamento para a bariátrica adiada por mais de 20 anos, em função do medo. Sempre a considerei uma mutilação, mas diante do avanço da obesidade a passos largos, e da redução da mobilidade e ameaça à qualidade de vida, cedi à necessidade imperativa.

 

E se a cruzada de pernas é uma das conquistas, sempre é bom lembrar que o desafio maior não é ingerir apenas 50 ml de líquido no primeiro mês da cirurgia. O desafio maior é vencer a cabeça de gordo e manter a disciplina, passado o primeiro ano pós-cirúrgico.

 

Confesso que sentia mais sede do que fome nos primeiros meses. E beber pouca água era sofrido. Se tomasse um pouco mais de água não conseguia comer, e precisava me alimentar bem para manter a boa saúde que sempre tive, sem alterações comuns aos gordos.

 

Passados os meses, há perda de peso considerável, volta-se à rotina, mas a cabeça de gordo permanece. Só o estômago é reduzido. E é aí que mora o perigo. Passa o medo de rompimento dos grampos e é preciso vigilância permanente para não haver reganho de peso, como diz a nutricionista que me acompanha.

 

Infelizmente permaneço sedentária, mantenho velhos hábitos, mas perdi muito peso na mesma proporção em que ganhei muita "pelanca". No custo benefício, acho que ainda estou no lucro. Nada que um cirurgião plástico e dinheiro não resolvam. É o que espero francamente.

 

Mas como diria Einstein, é insanidade continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Fechar a boca, comer nas horas certas e praticar atividade física deve ser  rotina pós-cirúrgica para a vida toda.

 

Tudo que deveria ter sido feito antes do ganho absurdo de peso, diriam os impiedosos de plantão. Sim. Exatamente isso. Se voltar a comer com exagero engordar é uma certeza. Absoluta.

 

Da minha parte, confesso que um dos gatilhos para o controle será a cruzada de pernas. Mesmo que ninguém mais perceba glamour, beleza ou elegância nesse simples ato, tenho que confessar. Sinto-me poderosa e o meu olhar sobre mim nunca mais será o mesmo. E isso é muita coisa. Podem acreditar.

 

 


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